
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou na última quarta-feira (26) a nova lei do Imposto de Renda (IR), que altera as regras de isenção e cria uma tributação extra para contribuintes com altos rendimentos. A medida entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026 e tem impacto direto sobre os 0,1% mais ricos do país, um grupo estimado em cerca de 160 mil pessoas.
A nova legislação aumenta a faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês, beneficiando aproximadamente 15 milhões de brasileiros. Para compensar a perda de arrecadação, calculada em R$ 100 bilhões, o governo decidiu aplicar uma cobrança progressiva sobre grandes rendas anuais, a partir de R$ 600 mil.

Infográfico detalha o impacto da nova taxação sobre os 0,1% mais ricos do Brasil, sancionada pelo presidente Lula.
Quem vai pagar a conta - A alíquota mínima será de 10%, com aumento proporcional conforme a renda sobe. O novo modelo atinge salários, aluguéis, investimentos e, principalmente, dividendos, que até então eram isentos no Brasil.
A cobrança começa a valer para quem recebe mais de R$ 50 mil mensais em dividendos de uma única fonte. O objetivo é tributar os chamados “super-ricos”, cujos ganhos costumam vir de lucros empresariais e aplicações financeiras.
De acordo com dados da Receita Federal e estimativas de mercado, os 0,1% mais ricos ganham, no mínimo, R$ 146,1 mil por mês — ou cerca de R$ 1,75 milhão por ano. Dentro desse grupo, os rendimentos médios chegam a R$ 516 mil mensais. Eles concentram 12,5% da renda nacional, uma fatia que cresceu após a pandemia da Covid-19.
Nomes da elite brasileira - Entre os mais afetados pela nova regra estão bilionários e CEOs que figuram na lista da Forbes 2025. Segundo a publicação, o Brasil tem 300 bilionários, com patrimônio somado de R$ 2,01 trilhões — o equivalente a 17,1% do PIB nacional.
No topo do ranking está Eduardo Saverin, cofundador do Facebook, com fortuna estimada em R$ 227 bilhões. Vicky Safra e família aparecem em segundo lugar, com R$ 120,5 bilhões. Em seguida, estão nomes como Jorge Paulo Lemann (Ambev), André Esteves (BTG Pactual), os irmãos Moreira Salles (Itaú e CBMM) e os herdeiros do grupo Votorantim.
Muitos desses patrimônios estão vinculados a dividendos de empresas. Com a nova lei, esses rendimentos passarão a ser tributados em 10% para valores mensais acima de R$ 50 mil por fonte pagadora.
Altos executivos também entram na conta - Além dos bilionários, os principais executivos do país também sentirão os efeitos da nova cobrança. Em 2025, a remuneração média de um CEO brasileiro foi de R$ 15,3 milhões por ano.
Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, lidera o ranking com R$ 81,7 milhões anuais. Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, aparece logo depois, com R$ 67,7 milhões. Outros nomes como Jorge Fontoura (Vale), Fábio Barbosa (Natura) e Pedro Parente (BRF) completam a lista de executivos que poderão pagar milhões em tributos adicionais.
Repercussão e polêmica - A nova política tributária gerou reações imediatas em grupos de alta renda. Em redes sociais e fóruns privados, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e empresários criticaram a medida, classificando-a como “confiscatória”. As críticas se concentraram especialmente na tributação de dividendos, considerada um “desestímulo ao investimento”.
Do outro lado, economistas que defendem maior justiça fiscal lembram que, no modelo anterior, muitos super-ricos pagavam proporcionalmente menos imposto do que assalariados da classe média.
Impacto na economia - Com a reformulação do IR, o governo espera injetar entre R$ 28 bilhões e R$ 34 bilhões na economia em 2026, resultado do aumento da renda disponível da classe média. A expectativa é que isso impulsione o consumo, contribua para o crescimento do PIB e ajude a conter a inflação.
A nova lei faz parte do Projeto de Lei nº 1.087/2025, aprovado pela Câmara dos Deputados em 1º de outubro e pelo Senado em 5 de novembro. O prazo para sanção presidencial terminaria na quinta-feira (27), o que levou Lula a oficializar a medida um dia antes.
A cobrança sobre os mais ricos será progressiva e proporcional ao valor recebido. A alíquota começa em 10% e poderá aumentar conforme a faixa de rendimento. A expectativa do governo é que a arrecadação ajude a financiar políticas sociais sem aumentar a carga tributária sobre os mais pobres.


