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05 de outubro de 2025 - 12h07
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ECONOMIA

Câmbio favorável e indústria ociosa aliviam impacto da nova faixa de isenção do IR

Economistas avaliam que medida pode aquecer a economia, mas efeitos na inflação devem ser contidos por fatores como dólar em queda e endividamento das famílias

5 outubro 2025 - 08h30Redação
Imposto de Renda
Imposto de Renda - (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A proposta de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil mensais tem gerado debate entre economistas e analistas de mercado. Embora alguns vejam na medida um possível estímulo ao consumo e, por consequência, à inflação, especialistas alertam que o cenário é mais complexo do que aparenta. Fatores como o câmbio valorizado, o elevado nível de endividamento das famílias brasileiras e a capacidade ociosa da indústria podem neutralizar os efeitos inflacionários esperados.

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Para o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, a ampliação da isenção deve ser entendida como uma ação de justiça tributária e não como um gatilho inflacionário. “Essa mudança precisa ser vista como parte de uma reorganização tributária que torna a economia mais eficiente”, defende.

Rocha ressalta que o câmbio tem sido determinante para a queda da inflação, mesmo diante do aumento da renda e do recorde na massa salarial. “O dólar mais barato está ajudando a reduzir preços, especialmente de alimentos, que são muito sensíveis ao poder de compra da população. Isso tem mais impacto hoje do que a demanda aquecida”, afirma.

Apesar da recuperação do mercado de trabalho e da maior renda disponível, o economista observa que a inflação segue em trajetória de desaceleração. Isso, segundo ele, é reflexo do diferencial de juros favorável ao Brasil e da estabilidade cambial, que tem compensado pressões de demanda.

André Perfeito, economista e fundador da APCE (André Perfeito Consultoria Econômica), compartilha da mesma visão. Para ele, a alta taxa de endividamento das famílias brasileiras limita a capacidade de consumo adicional. “Não acredito que o aumento da isenção vá se traduzir diretamente em maior demanda. As famílias estão muito alavancadas, e parte desse alívio no imposto pode ir para o pagamento de dívidas, não para o consumo”, explica.

Outro ponto levantado pelos especialistas é a ociosidade da indústria. Mesmo que haja um aumento na demanda, o setor produtivo teria condições de absorver esse movimento sem gerar pressão inflacionária significativa. A capacidade instalada da indústria paulista, por exemplo, ainda opera abaixo de seu limite.

Dados da Fiesp mostram que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação de São Paulo está em 79,4%. Isso indica que ainda há mais de 20% de capacidade disponível. No setor de máquinas e equipamentos, esse percentual é ainda maior, chegando a 21,2% de ociosidade, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Além disso, a carteira de pedidos nesse setor recuou 2,5% em agosto, após alta de 2,1% em julho. A queda foi puxada principalmente pelas áreas de máquinas agrícolas e de equipamentos para a indústria de transformação, o que reforça a folga na produção.

“Existe espaço para aumento da oferta, o que pode atenuar eventuais pressões de demanda. Mas isso depende de como o mercado de trabalho vai reagir. Se os salários reais continuarem subindo, a demanda pode aumentar mais do que o esperado. Ainda assim, eu não trataria como certo que toda essa isenção vá virar consumo automático”, pondera Perfeito.

Outros dados também apontam para uma indústria ainda cautelosa. O indicador Sensor da Fiesp, que mede a percepção dos empresários sobre a atividade industrial, fechou setembro em 49,6 pontos — abaixo da linha de 50 que separa crescimento de retração. As vendas melhoraram no mês (50,3 pontos), mas os estoques ainda estão abaixo do ideal (49,0 pontos).

Diante desse cenário, a avaliação dos economistas é que o Banco Central deve manter sua postura de cautela na condução da política monetária. A autoridade monetária aguarda a consolidação dos efeitos do aperto dos juros sobre a economia antes de qualquer mudança de rota.

“Não vejo motivos para o Banco Central mudar seu plano. O momento é de observar os desdobramentos com calma e não tomar decisões precipitadas”, conclui Igor Rocha.

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