
Fernando Haddad reforça interesse em ampliar parcerias com os EUA e critica desinformação sobre o Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira, 1º de agosto, que os Estados Unidos têm perdido espaço na economia brasileira ao longo dos últimos anos, mas que o Brasil mantém o interesse em fortalecer os laços com o país norte-americano. Segundo ele, parte da percepção negativa em relação ao Brasil decorre de informações distorcidas fornecidas pela oposição brasileira, especialmente por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Temos que administrar uma situação incomum. É um gesto do presidente americano que, por razões conhecidas e divulgadas por vocês, tem recebido informações equivocadas sobre o Brasil”, declarou o ministro a jornalistas. Para Haddad, é necessário "dissipar essa desinformação e trazer o debate para a racionalidade em busca da cooperação".
Queda na participação dos EUA nas exportações brasileiras
Haddad destacou que a presença dos Estados Unidos nas exportações brasileiras caiu significativamente nas últimas décadas. “Eles representavam 25% das nossas exportações. Hoje, representam menos da metade. Isso não é bom, porque é a maior economia do mundo”, observou.
O ministro apontou que, durante o governo do democrata Joe Biden, o Brasil atuou ativamente para atrair investimentos americanos. “Mostramos os vários setores que pudemos cooperar. Nós continuamos pensando da mesma maneira”, disse, ressaltando que o compromisso brasileiro com a parceria bilateral independe de quem ocupa a presidência dos EUA.
Relação com os EUA é de Estado, não de governo
Haddad frisou que o objetivo do Brasil é manter uma relação de Estado com os EUA, e não meramente de governo. “Embora tenha havido uma troca de comando lá, o nosso objetivo, enquanto Estado nacional, continua sendo o mesmo: mais parcerias com os Estados Unidos. Nós não vamos mudar porque agora tem um presidente menos alinhado com a social-democracia brasileira”, afirmou.
Ele também disse que não faz sentido falar em uma guinada do Brasil para outros blocos ou nações, e defendeu que o país mantenha uma política externa equilibrada. “Há muito espaço para parcerias. É sobre isso que temos que jogar luz. Mostrar para eles que não tem essa de o Brasil cair no colo de A, B ou C”, afirmou.
Setores estratégicos e oportunidades de cooperação
Mesmo reconhecendo a concorrência com produtos norte-americanos em certos segmentos, Haddad acredita que há espaço para complementaridade e cooperação, especialmente em áreas como infraestrutura. “Eles [os americanos] têm participado pouco de licitações no Brasil. A nossa infraestrutura está crescendo como há muito tempo não se via”, destacou.
Contato contínuo com o secretário do Tesouro dos EUA
Haddad revelou que tem mantido diálogo regular com a equipe de Scott Bessent, atual secretário do Tesouro norte-americano, apontado como peça-chave nas recentes tensões entre os dois países. “Desde que ele estava na Europa, estamos praticamente entrando em contato dia sim, dia não com a assessoria dele, nos colocando à disposição”, explicou.
O ministro ressaltou a importância do papel político exercido por Bessent. “Ele é uma figura central, porque a secretaria dele, que é o ministério, também tem uma dimensão política importante”, comentou.
Haddad disse ainda estar aberto para uma reunião com Bessent a qualquer momento. “Não depende de mim. Estou disponível a todo tempo, sábado, domingo, de madrugada”, afirmou, ao ser questionado sobre a possibilidade de um encontro antes do dia 6 de agosto, data prevista para a entrada em vigor de tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros.
Defesa das instituições brasileiras
Durante a coletiva, Haddad também defendeu que o governo dos EUA precisa compreender melhor o funcionamento das instituições brasileiras. Segundo ele, o Executivo atua dentro dos limites constitucionais, em harmonia com os demais poderes. “Isso tudo precisa ser compreendido pelo lado de lá, porque senão passa uma impressão equivocada do que está acontecendo”, argumentou.
O comentário foi feito em meio a tensões diplomáticas recentes, após o governo do presidente Donald Trump anunciar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, acusando-o de violações aos direitos humanos.
