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ECONOMIA

Governo mapeia novos mercados para escoar agro brasileiro afetado por tarifas dos EUA

Com tarifa de 50% prevista para 1º de agosto, Brasil mira Ásia e Oriente Médio para redirecionar exportações do setor agropecuário

27 julho 2025 - 10h45Isadora Duarte
Presidente Lula e Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores
Presidente Lula e Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores - (Foto: Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)

Diante do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros — com entrada em vigor prevista para 1º de agosto — o governo federal intensificou esforços para redirecionar parte do agronegócio brasileiro a outros mercados. A estratégia, conduzida pelo Ministério da Agricultura em parceria com o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), envolve a abertura de novos destinos e a ampliação de fluxos comerciais já existentes, com foco especial na Ásia e no Oriente Médio.

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As medidas buscam mitigar o impacto da medida norte-americana sobre setores sensíveis da economia nacional. Produtos como suco de laranja, café, carne bovina, frutas e pescados estão entre os mais expostos ao mercado dos EUA e, portanto, mais ameaçados pela nova alíquota.

Diagnóstico em duas frentes - Segundo fontes do governo ouvidas pelo Broadcast Agro, a atuação está dividida em duas frentes principais: primeiro, identificar destinos alternativos com potencial de absorver parte do volume atualmente exportado aos EUA; segundo, acelerar negociações em curso para habilitar frigoríficos e ampliar a presença de produtos brasileiros no mercado internacional.

"Todas as alternativas estão à mesa para minimizar o máximo possível os impactos do fluxo comercial afetado com os Estados Unidos. O primeiro passo é olhar os setores que terão vendas inviabilizadas aos EUA com a taxa de 50% e realizar busca ativa de oportunidades", afirmou um interlocutor próximo das tratativas.

Países-alvo e negociações em andamento - Entre os destinos já mapeados, destacam-se Japão, Turquia e Coreia do Sul, para os quais o Brasil busca avançar na abertura do mercado de carne bovina. O Japão, por exemplo, já auditou o sistema sanitário brasileiro e pode liberar as importações da proteína nacional até novembro deste ano. O Brasil também negocia com Indonésia, Vietnã e México a habilitação de até 50 frigoríficos para exportação de carne bovina.

No caso do suco de laranja, estão em curso tratativas com a China para redução das tarifas de importação, que atualmente variam de 7,5% a 20%. A Arábia Saudita também surge como possível destino para ampliar as vendas externas da bebida. A China ainda é foco para a abertura de mercado para frutas brasileiras, como lima ácida, além da expansão nas exportações de manga e uva.

Com o México, o governo brasileiro discute a manutenção da isenção tarifária vigente até dezembro e a ampliação do Acordo de Complementação Econômica nº 53 (ACE 53). Também há planos para promover o café brasileiro em mercados com consumo crescente, como a China e a Austrália.

Articulação diplomática e empresarial - Além do trabalho técnico, há um movimento coordenado entre os ministérios e os adidos agrícolas no exterior para identificar potenciais compradores e apresentar o Brasil como fornecedor confiável. Câmaras de comércio internacionais também já se aproximaram do governo brasileiro oferecendo seus países como destinos alternativos para os produtos que deixarão de ir aos Estados Unidos.

No plano interno, o governo tem mantido diálogo constante com o setor privado. A estratégia de diversificação de mercados é vista com bons olhos pelos empresários, mas há preocupação com os efeitos de curto prazo.

“São negociações longas e, em alguns casos, com pontos técnicos ainda a serem dirimidos”, afirmou um representante dos exportadores.

Cargas já prontas preocupam exportadores - Um dos principais entraves imediatos é o destino dos produtos que já foram produzidos e estão nos portos ou em trânsito para os EUA. Sem espaço no mercado interno para absorver essa produção em grande volume, há risco de queda nos preços.

Exportadores pediram ao vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, que a tarifa de 50% só seja aplicada a cargas embarcadas após 1º de agosto — considerando a data no documento Bill of Lading. A proposta visa proteger embarques já feitos antes da vigência oficial da medida.

Impacto bilionário na balança comercial - De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio brasileiro poderá perder até US$ 5,8 bilhões com a queda nas exportações para os EUA, o equivalente a 48% do total comercializado em 2024, quando os embarques somaram US$ 12,1 bilhões. Os dados do primeiro semestre de 2025 confirmam a importância do mercado americano: de janeiro a junho, o setor agro exportou US$ 6,63 bilhões para os EUA, o que representa 8% do total vendido ao exterior.

Produtos florestais (US$ 1,76 bilhão), café (US$ 1,06 bilhão), carnes (US$ 1,06 bilhão) e sucos (US$ 743 milhões) lideram a pauta de exportação brasileira para o mercado norte-americano.

Governo reconhece limites no curto prazo - Apesar da movimentação intensa, o próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, admitiu que não será possível compensar imediatamente a perda de um mercado do porte dos EUA. “É determinação do presidente Lula que este papel de abrir e ampliar mercados seja intensificado, de achar alternativas à essa produção brasileira”, declarou Fávaro, após reunião do comitê interministerial que coordena a resposta brasileira ao tarifaço.

O ministro destaca que, desde o início do atual governo, o Brasil já conseguiu abrir 397 novos mercados agropecuários — esforço que deve ser acelerado a partir de agora. Ainda assim, o desafio está em garantir que essa nova demanda possa absorver o volume hoje destinado aos EUA, sem prejuízo econômico aos produtores.

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