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ECONOMIA

Governo Lula quer excluir R$ 9,5 bilhões do impacto fiscal com pacote de socorro a exportadores

Pedido será feito ao Congresso por meio de projeto de lei complementar; exclusão inclui Reintegra e aporte em fundos garantidores

13 agosto 2025 - 19h15Flávia Said, Giordanna Neves e Gabriel de Sousa
Durigan frisou que houve atualizações depois da participação do ministro Haddad em audiência no Congresso
Durigan frisou que houve atualizações depois da participação do ministro Haddad em audiência no Congresso - (Foto: Washington Costa/MF)

O governo federal vai solicitar ao Congresso Nacional a exclusão de R$ 9,5 bilhões do cálculo da meta fiscal de 2024. O valor corresponde ao impacto de medidas anunciadas no pacote de socorro às empresas exportadoras atingidas pela taxação de até 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A decisão representa uma mudança de posição em relação ao que havia sido anunciado inicialmente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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Segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, a quantia inclui aportes em fundos garantidores e valores do programa Reintegra — mecanismo de devolução de impostos a exportadores. O governo pretende usar um projeto de lei complementar para obter o chamado waiver (exclusão formal) da meta fiscal, permitindo que os recursos sejam liberados sem comprometer o objetivo de zerar o déficit primário em 2024.

“A Advocacia-Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o próprio Congresso veem com bons olhos esse caminho. A construção foi feita em diálogo com os presidentes da Câmara e do Senado. A expectativa é de que o texto avance com apoio político”, afirmou Durigan.

Inicialmente, Haddad havia informado que o pacote seria financiado via crédito extraordinário — portanto fora do limite de gastos do arcabouço fiscal —, mas ainda assim contabilizado no resultado primário. O recuo veio após novas discussões dentro do governo e com o Legislativo, quando se decidiu incluir também o Reintegra, que tem impacto tributário estimado em até R$ 5 bilhões.

“O que mudou foi a gente ter trazido também a parte do Reintegra, com impacto, em termos de renúncia, de até R$ 5 bilhões — o que, no primeiro momento, não estava nas contas”, explicou Durigan.

O pacote também contempla a ampliação de linhas de crédito de até R$ 30 bilhões para as empresas afetadas, além de diferimentos no pagamento de impostos e aportes para garantir operações financeiras.

A Fazenda ainda estuda quais setores serão efetivamente beneficiados. Alguns empresários, segundo Durigan, relataram que conseguiram redirecionar suas exportações para novos mercados após a perda de competitividade nos EUA, o que poderá reconfigurar a lista de prioridades.

“Vamos ter que ter uma flexibilidade importante para ir definindo setores e ir atualizando. Alguns que estavam com dificuldades já encontraram novos destinos para seus produtos, o que pode mudar a urgência de atendimento”, comentou.

O governo sinaliza que pretende adotar uma abordagem cautelosa com o diferimento de tributos para evitar impacto fiscal relevante no orçamento de 2025.

Outra diretriz do pacote é condicionar os benefícios à manutenção dos empregos. O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que a exigência será um dos critérios de seleção das empresas beneficiadas. A ideia é preservar postos de trabalho enquanto o setor enfrenta o impacto das sanções comerciais.

“Estamos criando critérios de priorização e teremos o cuidado de exigir das empresas a manutenção dos empregos, levando em conta a realidade de cada segmento”, declarou Mello.

A decisão do governo em alterar o tratamento fiscal do pacote veio após pressões políticas do setor produtivo e articulação direta com o Congresso. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), participaram das conversas.

Durigan reconheceu que os argumentos apresentados pelo setor produtivo e pelas lideranças do Legislativo foram determinantes para incluir o Reintegra nas medidas e solicitar a exclusão do valor da meta fiscal.

“A gente concordou, os argumentos prevaleceram e o próprio Congresso sinalizou positivamente para esse diálogo. Foi uma construção institucional importante”, disse.

A Fazenda vai encaminhar ao Congresso um projeto de lei complementar pedindo a formalização da exclusão do montante da meta fiscal. A medida depende de aprovação parlamentar para ter validade legal. O governo espera que a tramitação seja acelerada, dada a urgência do pacote e o risco de fechamento de empresas exportadoras afetadas pelas novas tarifas norte-americanas.

A exclusão do impacto fiscal pode dar fôlego ao governo na busca pelo déficit zero neste ano, embora especialistas alertem que outras pressões sobre o orçamento continuam, especialmente com receitas abaixo do esperado no primeiro semestre.

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