A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de revogar a tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros representa um alívio significativo para setores estratégicos do agronegócio nacional, como o de carne bovina, café e frutas tropicais. A ordem executiva foi assinada nesta quinta-feira (20), em meio aos avanços nas negociações comerciais entre os dois países.
A medida zera a tributação extra imposta no final de julho a centenas de produtos brasileiros, que somava-se à tarifa recíproca de 10%, totalizando 50% de sobretaxa. Na prática, a retirada da cobrança devolve competitividade a itens que viram suas exportações despencarem nos últimos meses, como o café e a carne bovina.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) comemorou a retirada da sobretaxa de 40% e ressaltou que a decisão restabelece a isonomia competitiva com outros países produtores. “Conseguiremos reduzir os impactos e buscaremos ao máximo reconquistar os espaços perdidos nos blends no mercado americano”, afirmou o CEO do Cecafé, Marcos Matos.
Cerca de 16% do café brasileiro é destinado aos Estados Unidos. Desde agosto, os embarques haviam caído drasticamente, gerando preocupação entre exportadores e entidades do setor.
Também contemplada pela decisão, a carne bovina brasileira volta a ter livre acesso ao mercado americano sem a barreira tarifária imposta por Trump. Para a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o recuo do governo americano demonstra a força do diálogo técnico entre os países. “A reversão reforça a estabilidade do comércio internacional”, pontuou a entidade.
Entre os itens que tiveram alívio tarifário estão frutas como banana, manga, goiaba, açaí, cacau e abacate, além de vegetais, especiarias, nozes, raízes e tubérculos. Produtos energéticos como petróleo e carvão, também exportados pelo Brasil, foram incluídos na nova lista da Casa Branca.
A retirada das tarifas foi destacada pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio, como um sinal positivo nas relações comerciais. “É um passo importante para destravar barreiras e garantir competitividade”, afirmou.
Setores excluídos criticam ausência na medida - Apesar do avanço para boa parte dos produtos agrícolas, algumas cadeias produtivas ficaram de fora da decisão americana. O café solúvel, por exemplo, permanece com taxação elevada, assim como pescados, mel, calçados, máquinas e outros produtos industrializados.
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) demonstrou frustração. “Estamos felizes pelos setores que avançaram, mas frustrados por não vermos evolução e priorização do pescado”, afirmou o presidente da entidade, Eduardo Lobo.
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, reconheceu que nem todos os pleitos foram atendidos, mas celebrou o momento como uma vitória parcial para os exportadores brasileiros.
Próximos passos - Com o novo cenário tarifário, entidades do setor exportador e o governo brasileiro devem concentrar esforços na retomada de mercados e na manutenção de um canal técnico de negociação com os Estados Unidos.
Para o Cecafé, o desafio agora é reconquistar os clientes americanos com a qualidade e eficiência que tradicionalmente caracterizam o café brasileiro. “O momento é de retomar espaço nos blends e evitar que os concorrentes se consolidem com contratos de longo prazo”, finalizou Marcos Matos.
