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AVANÇO COMERCIAL

EUA dizem ver avanço com o Brasil, mas cobram mudanças para ampliar concessões tarifárias

Representante comercial Jamieson Greer cita diálogo entre Lula e Trump, elogia parcerias, mas aponta barreiras e acusações sem apresentar provas

10 dezembro 2025 - 15h15Laís Adriana
EUA veem avanço com o Brasil, mas exigem mudanças para ampliar concessões tarifárias.
EUA veem avanço com o Brasil, mas exigem mudanças para ampliar concessões tarifárias. - Foto: Ricardo Stuckert/PR/ABrasil

O representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer, afirmou nesta quarta-feira (10) que houve avanço nas negociações comerciais com o Brasil, durante participação em um evento do Atlantic Council, em Washington. Segundo ele, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump tiveram, recentemente, “conversas construtivas sobre comércio”, o que teria facilitado medidas como a inclusão do Brasil nas isenções tarifárias sobre cacau e café.

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A sinalização de aproximação ocorre em meio a um cenário de tensões e divergências sobre barreiras comerciais, políticas externas e questões de segurança nacional. Mesmo apontando progressos, Greer reforçou que ainda há pontos que os Estados Unidos consideram sensíveis no relacionamento com o Brasil e que podem influenciar a amplitude das concessões futuras.

Greer destacou que a administração norte-americana vê o Brasil como um parceiro relevante, especialmente no comércio agrícola, mas também como um competidor direto, o que exige cautela na definição de acordos.

“O Brasil é um bom parceiro para os EUA, mas também é um competidor, principalmente na agricultura”, afirmou o representante comercial. Ele disse que, apesar de avanços, existem tarifas e barreiras não tarifárias impostas pelo Brasil que afetam o acesso de produtos norte-americanos ao mercado brasileiro.

Segundo Greer, para que novos benefícios tarifários sejam debatidos, “há coisas que os brasileiros podem fazer”, indicando que Washington espera contrapartidas concretas para ampliar as concessões já anunciadas.

Durante a sessão de perguntas e respostas, Greer fez declarações que chamaram atenção pela gravidade. Ele mencionou preocupações com legislações brasileiras que, segundo ele, seriam “utilizadas como arma” contra empresas de tecnologia, além de citar “ordens secretas de investigação” envolvendo companhias e cidadãos norte-americanos no Brasil. Também acusou o país de promover “prisões arbitrárias de americanos”.

O representante, porém, não apresentou provas ou detalhes que sustentassem as alegações. Ainda assim, disse que esses temas interferem nas discussões comerciais.

“A segurança nacional é muito importante para nós. Queremos ter uma relação econômica melhor com o Brasil, só assim poderemos discutir concessões,” afirmou.

As declarações, feitas de forma genérica, devem gerar reação diplomática, já que envolvem acusações que costumam ser tratadas por canais oficiais entre governos.

Dialogar com Washington: concessões, expectativas e pressões

O clima de negociação entre os governos Lula e Trump envolve interesses econômicos e alinhamentos estratégicos. Nos bastidores, os EUA têm cobrado do Brasil maior abertura comercial, redução de tarifas e mudanças regulatórias. Do lado brasileiro, há interesse em ampliar o acesso de produtos ao mercado norte-americano e garantir tratamento preferencial em áreas sensíveis, como agricultura e energia.

A inclusão do Brasil nas isenções tarifárias de cacau e café é apontada como passo inicial. Essas medidas tendem a beneficiar produtores brasileiros e reduzir custos de exportação. Porém, para Washington, esse gesto precisa vir acompanhado de contrapartidas.

Greer reforçou que a relação só avançará plenamente quando houver maior convergência em temas considerados de “segurança econômica”, expressão usada para indicar questões que vão desde proteção de dados até comportamento regulatório.

Questionado sobre o impacto que a relação comercial dos EUA com a China poderia ter nas negociações com o Brasil, Greer minimizou preocupações. Ele afirmou que autoridades norte-americanas trabalham para identificar “o que os chineses querem dos EUA” e quais produtos podem ser comercializados sem riscos de comprometer a segurança nacional.

O representante disse ainda que vê “maior equilíbrio” no comércio de bens de consumo e itens de baixa tecnologia e afirmou não enxergar “inconsistências” nas políticas mais rígidas adotadas pelo governo Trump em relação a parceiros comerciais.

A fala reforça a linha de atuação do USTR, que coloca aspectos geopolíticos no centro das negociações comerciais — abordagem que tende a afetar países que buscam novos acordos com os EUA, como o Brasil.

A disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos é mais intensa no setor agrícola, onde ambos competem diretamente por mercados globais. Produtos como soja, milho, carnes, café e açúcar são destaque nas exportações brasileiras, muitas vezes competindo com produtores americanos.

Greer destacou que essa concorrência explica parte das resistências a uma abertura mais ampla:

• O Brasil tem vantagens naturais de produção agrícola;
• EUA e Brasil disputam os mesmos mercados, especialmente na Ásia;
• Washington teme perda de competitividade em setores estratégicos.

Ao mesmo tempo, o representante reconheceu que a cooperação entre os países pode trazer ganhos bilaterais, tanto para exportações quanto para investimentos.

As falas de Greer demonstram que, embora os EUA sinalizem disposição de ampliar o diálogo, há preocupação crescente em relação ao papel do Brasil em temas sensíveis:

• políticas de regulação de tecnologia;
• investigações envolvendo empresas estrangeiras;
• aliança do Brasil com países considerados estratégicos pelos EUA, como China e Rússia;
• posicionamento brasileiro em fóruns multilaterais.

A postura norte-americana indica que qualquer avanço comercial dependerá do comportamento do Brasil em temas mais amplos, que ultrapassam o escopo do comércio.

Greer elogiou diretamente as conversas recentes entre Lula e Trump, descrevendo o diálogo como “construtivo”. O reconhecimento público busca transmitir que há boa vontade política, embora divergências persistam.

A relação entre os dois governos, marcada por contraste ideológico, tem sido conduzida de forma pragmática. Os EUA seguem interessados em reforçar sua presença econômica na América Latina, enquanto o Brasil busca ampliar sua autonomia, equilibrando parcerias com Washington, Europa e China.

A sinalização de que o documento comercial pode avançar deve influenciar os próximos passos da política externa brasileira.

A fala de Greer sugere que as negociações devem avançar, mas sob condições. Entre os pontos sensíveis que podem aparecer nos próximos meses estão:

• exigência dos EUA por abertura de mercados e redução de tarifas;
• demandas por maior transparência regulatória;
• negociações envolvendo tecnologia e segurança digital;
• pressões políticas em temas externos;
• possibilidade de novos acordos setoriais.

O Brasil também deve buscar compensações:

• ampliação de isenções tarifárias;
• acordos que favoreçam exportações agrícolas;
• incentivos para investimentos;
• cooperação em inovação e transição energética.

A tendência é que o diálogo comercial continue alinhado a questões geopolíticas, o que torna cada rodada de negociação mais complexa.

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