
As poucas mulheres que chegam ao topo da hierarquia corporativa ainda enfrentam uma permanência mais curta e instável em relação aos homens. É o que mostra o Índice Global de Rotatividade de CEOs, levantamento da consultoria Russell Reynolds.

Segundo o estudo, executivos homens permanecem, em média, oito anos no cargo, enquanto as mulheres ficam cerca de cinco anos. Além disso, elas têm 33% mais risco de demissão, mesmo quando as empresas apresentam bons resultados.
“Quando o negócio vai bem, as chances de um CEO homem ser demitido é muito menor. Há um julgamento mais forte por parte do conselho em relação às mulheres”, explica Aline Benvengo Larangeira, consultora da Russell Reynolds e porta-voz da pesquisa.
O estudo analisou 1.142 transições de liderança em 25 países, incluindo o Brasil, desde 2018. Entre os dados mais recentes:
- No 1º semestre de 2025, apenas 9% das nomeações para CEO foram de mulheres.
- Em 2024, elas representaram 11% dos presidentes nomeados em empresas de capital aberto.
- Entre os homens, o principal motivo de saída do cargo é a aposentadoria (31%).
- Já entre as mulheres, a demissão lidera como razão de saída (32%).
Além disso, executivas enfrentam barreiras adicionais. Muitas não têm acesso a cargos estratégicos como CFO ou COO, que costumam servir de trampolim para a presidência. Como 76% dos CEOs são promovidos internamente, essa falta de oportunidades limita ainda mais a ascensão feminina.
De acordo com Larangeira, além de questões estruturais e culturais, fatores pessoais também pesam mais na saída das mulheres do que na dos homens. Responsabilidades familiares e a maternidade ainda são apontadas como barreiras para a estabilidade no alto escalão.
Para Cintia Moreira, CEO da Dengo Chocolates, as dificuldades muitas vezes aparecem de forma sutil. “Não se trata apenas de barreiras explícitas, mas de sutilezas: redes de relacionamento, expectativas sociais e a forma como comportamentos são interpretados”, avalia.
Já Patrícia Lima, fundadora e CEO da Simple Organic, acredita que criar a própria empresa foi decisivo para sua permanência na liderança. “Meu caso é diferente. Fiz minha trajetória fora do padrão. Mas ainda vejo muitas mulheres com síndrome da impostora. Ter uma rede de apoio e mentoria é fundamental para mudar esse cenário”, defende.
Para as especialistas, o avanço depende de três fatores principais:
- maior acesso a cargos estratégicos que conduzem à presidência;
- fortalecimento de redes de apoio e mentoria feminina;
- mudanças culturais que normalizem diferentes estilos de liderança.
Enquanto esse processo não se consolida, os dados mostram que a alta liderança segue sendo um espaço desafiador para mulheres, com maior rotatividade e menor estabilidade em comparação aos homens.
