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ECONOMIA

Emprego resiste à Selic em 15% e especialistas apontam reformas e mudanças demográficas

Taxa de desemprego caiu a 5,8% no trimestre até junho, mínima histórica, e fenômeno intriga economistas e o próprio Banco Central

17 agosto 2025 - 11h15Francisco Carlos de Assis, Caroline Aragaki, Anna Scabello e Renata Pedini
Brasil mantém desemprego em mínima histórica mesmo com Selic alta; especialistas citam reformas, demografia e setor de serviços.
Brasil mantém desemprego em mínima histórica mesmo com Selic alta; especialistas citam reformas, demografia e setor de serviços. - (Foto: Reprodução)

O Brasil registra hoje uma das taxas de desemprego mais baixas da história, mesmo sob juros elevados. Segundo o IBGE, o índice ficou em 5,8% no trimestre encerrado em junho, mesmo período em que a Selic estava em 15%, nível considerado restritivo para a economia. O fenômeno tem intrigado analistas e até o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que admitiu ter dificuldade em explicar a resiliência do mercado de trabalho a colegas de outros países.

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Sem uma única justificativa consensual, especialistas consultados apontam uma combinação de fatores: reformas trabalhista e previdenciária, mudanças demográficas, efeitos pós-pandemia e a força de setores específicos, como saúde, tecnologia da informação e serviços de entrega.

Setores que puxam a geração de vagas - De acordo com o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, o crescimento do emprego está concentrado em áreas específicas. “Quando separamos saúde, entregador de moto e emprego no setor de TI, os outros tipos já estão mostrando desaceleração no crescimento. Contudo, mesmo que não tivesse crescimento dessas vagas, a taxa de desemprego no Brasil ainda estaria baixa, próxima de 8%”, afirmou.

Mansueto prevê que a taxa de desemprego deve permanecer perto desses níveis e que o governo terminará o mandato com índices próximos de 7% a 7,5%.

Pandemia e participação na força de trabalho - Para Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, a pandemia provocou uma queda relevante na taxa de participação, ou seja, a proporção da população que trabalha ou procura emprego. Parte dessa redução, diz ela, permanece até hoje, em razão do aumento de transferências de renda.

“Desde o segundo semestre de 2020, a forte elevação das transferências – tanto em volume quanto em valor real – passou a exercer pressão baixista sobre a participação”, explicou. Segundo a economista, o efeito foi mais intenso entre famílias de baixa renda e pode ter reduzido o incentivo à busca imediata por trabalho.

Mansueto, porém, lembra que estudo do FMI mostrou impacto concentrado em mulheres com filhos pequenos, mas sem alterar significativamente a oferta de mão de obra no geral.

Crescimento da informalidade e renda do autônomo - Outro fator é a expansão da informalidade. O economista da XP Investimentos, Rodolfo Margato, alerta que há dificuldade em medir corretamente ocupações informais dentro da Pnad Contínua, mas reconhece que elas ganharam espaço no pós-pandemia.

Galípolo, do Banco Central, destacou que a renda dos trabalhadores autônomos vem crescendo mais que a formal. “Como a economia tem crescido acima do projetado, temos visto a população com desejo de trabalhar nesta modalidade informal”, afirmou.

Demografia pesa no mercado de trabalho - O envelhecimento da população também é citado como explicação para a menor pressão sobre o emprego. João Savignon, da Kínitro Capital, observa que, após a pandemia, a taxa de participação caiu e não voltou ao patamar anterior.

Margato lembra que a idade média do trabalhador brasileiro subiu: “Décadas atrás girava em torno dos 25 anos, agora está mais próxima dos 40”. Para ele, essa mudança reflete as projeções do IBGE de queda no número de nascimentos e envelhecimento acelerado da população.

Reformas estruturais em destaque - Entre os fatores de longo prazo, as reformas trabalhista (2017) e previdenciária (2019) são apontadas como determinantes para a resiliência atual.

Srour avalia que essas mudanças ajudaram a reduzir o desemprego estrutural. A economista Andrea Damico, da Buysidebrazil, reforça: “A reforma trabalhista tornou o mercado mais dinâmico. Isso pode estar sim colaborando para essa resiliência mais estrutural”.

Ela acrescenta que o avanço do trabalho híbrido também elevou a produtividade e contribuiu para ganhos salariais.

Já o economista Bruno Imaizumi, da 4intelligence, lembra que as transformações demográficas e tecnológicas também moldam o mercado: “Todos esses fatores contribuem para uma taxa de desemprego mais baixa, e parte deles não entra no cálculo da Nairu, taxa de desemprego neutra”.

Uma nova taxa natural de desemprego? - Mansueto sugere que até mesmo o conceito de Nairu (taxa natural de desemprego) pode ter mudado. “Talvez essa taxa hoje seja menor. Essa mudança de composição – com maior peso em serviços intensivos em mão de obra, como entregas – aumentou muito no pós-pandemia”, disse.

Com juros elevados, economia desacelerando e inflação em queda, o emprego no Brasil desafia modelos tradicionais de análise e mostra que a estrutura do mercado de trabalho pode estar passando por uma transformação mais profunda.

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