
Apesar do ambiente externo favorável à desvalorização do dólar, a moeda norte-americana voltou a subir frente ao real nesta quarta-feira, 13 de agosto, encerrando o dia acima da marca de R$ 5,40. A alta foi leve, de 0,27%, com cotação final em R$ 5,4018.

No exterior, o dólar caiu frente a outras moedas diante das expectativas quase unânimes de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deve iniciar cortes de juros em setembro. Ainda assim, fatores internos e regionais acabaram pressionando o real, que sofreu com ajustes de posições e realização de lucros após quedas recentes.
Na máxima do dia, a moeda chegou a R$ 5,4113, acompanhando os piores momentos do Ibovespa e do mercado de petróleo. Mesmo com a alta de hoje, o dólar ainda acumula queda de 0,63% na semana, 3,55% no mês e expressivos 12,60% no ano frente ao real.
Especialistas atribuem o movimento do câmbio a uma combinação de ajustes técnicos e fatores externos que impactam emergentes como o Brasil. A queda do petróleo e o recuo de moedas latino-americanas, como o peso mexicano e o colombiano, também ajudaram a enfraquecer o real.
“Vemos um pouco de correção do dólar em relação ao real hoje após um movimento muito forte de queda neste início de mês”, explicou Adauto Lima, economista-chefe da gestora Western Asset. “Outras divisas emergentes latino-americanas também têm um desempenho um pouco pior hoje.”
Lima avalia que o pacote anunciado pelo governo Lula para mitigar os impactos do aumento de tarifas sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos provocou algum desconforto, mas não foi determinante para o movimento da moeda. “Os problemas fiscais não desapareceram, mas neste momento de dólar fraco no mundo, não têm tanto peso para o câmbio”, afirmou.
O Ministério da Fazenda detalhou na tarde de quarta-feira o pacote de medidas para enfrentar o chamado “tarifaço” dos EUA, que atinge principalmente produtos de aço e alumínio brasileiros. Entre as ações, está a liberação de um crédito extraordinário de R$ 30 bilhões, além de um aporte extra de R$ 4,5 bilhões em fundos de garantia às exportações.
Também foi anunciada a extensão do programa Reintegra, que devolve parte dos tributos pagos por empresas exportadoras, para todas as companhias que vendem aos EUA. Essa ampliação, somada ao reforço dos fundos, eleva os gastos fora da meta fiscal para R$ 9,5 bilhões.
“O Congresso trabalhará em diálogo com o governo a possibilidade de excluir esses valores da meta de primário para o ano de 2025”, disse o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan.
Apesar de reconhecer a importância da resposta econômica, analistas alertam que medidas extraordinárias fora da meta fiscal aumentam a incerteza sobre as contas públicas. “Exceções dificultam a leitura das contas públicas e abalam a credibilidade das metas fiscais”, reforçou Adauto Lima.
No cenário internacional, o dólar continua pressionado pela expectativa de corte de juros nos Estados Unidos. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis moedas fortes, caiu para 97,626 pontos — seu menor nível recente — e acumula queda de 2,20% apenas em agosto. No ano, o recuo chega a 9,80%.
O movimento se intensificou após o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmar em entrevista à Bloomberg TV que há “boa possibilidade” de o Fed cortar 50 pontos-base na reunião de setembro. Segundo a ferramenta do CME Group, a chance de um corte de pelo menos 25 pontos-base é de 99,99%, enquanto a probabilidade de uma redução total de 75 pontos-base até o fim de 2024 subiu de 50% para 57%.
Essa perspectiva de juros mais baixos nos EUA reduz o diferencial de taxas entre países desenvolvidos e emergentes, favorecendo moedas como o real. Ainda assim, os efeitos sobre o câmbio brasileiro foram limitados nesta quarta-feira por fatores internos e regionais.
Apesar da valorização pontual, o cenário geral ainda favorece o real no curto prazo, segundo operadores. A expectativa de cortes de juros nos EUA e a percepção de que o dólar globalmente perdeu força sustentam a tendência de desvalorização da moeda americana. No entanto, ruídos fiscais e incertezas políticas no Brasil seguem como riscos.
“Se o governo não apresentar sinais claros de compromisso com as metas fiscais, o real pode voltar a sofrer, mesmo em um ambiente externo benigno”, avalia um gestor de câmbio de um banco estrangeiro em São Paulo.
Para os próximos dias, o mercado seguirá atento à movimentação política em torno do pacote econômico, às falas de dirigentes do Fed e aos dados de inflação nos Estados Unidos, que podem alterar as apostas sobre os cortes de juros.
