
O dólar iniciou a última semana de 2025 em alta firme frente ao real, voltando a se aproximar do patamar de R$ 5,60 nos momentos de maior pressão da sessão. Além de um dia negativo para moedas emergentes — especialmente as latino-americanas —, o real foi impactado pela demanda sazonal por dólares para remessas de lucros e dividendos ao exterior, em um ambiente de liquidez reduzida.
Durante o pregão desta segunda-feira (29), o dólar à vista atingiu a máxima de R$ 5,5858 e encerrou o dia cotado a R$ 5,5689, com alta de 0,44%. No acumulado de dezembro, a moeda norte-americana já sobe 4,39%, movimento atribuído à combinação de fatores sazonais e ao aumento dos prêmios de risco no mercado doméstico.
Embora sem impacto direto na formação da taxa de câmbio, operadores também relataram desconforto com o impasse jurídico envolvendo a liquidação do Banco Master pelo Banco Central, o que contribuiu para um ambiente de cautela entre os investidores.
Segundo especialistas, a principal força por trás da valorização do dólar foi o fluxo financeiro típico do fim do ano. “Não vimos notícias hoje que pudessem mexer diretamente com o câmbio. O aumento das remessas ao exterior, em meio à liquidez mais reduzida, trouxe volatilidade e acabou puxando o dólar para cima”, afirmou Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos.
Operadores destacaram ainda um comportamento pouco usual no mercado: o dólar futuro para janeiro passou boa parte do pregão abaixo da cotação à vista, indicando uma demanda mais forte por moeda americana no mercado spot, justamente para atender às remessas externas.
Além disso, investidores já começam a rolar posições no mercado futuro e se preparam para a disputa em torno da definição da última taxa ptax de dezembro, referência utilizada na liquidação de contratos derivativos e no fechamento de balanços corporativos.
“Em alguns momentos vimos o chamado ‘casado negativo’, com o dólar futuro valendo menos que o spot. Isso é bastante comum no fim do ano, quando há saída de recursos para pagamento de lucros e dividendos”, explicou Jonathan Joo Lee, head da mesa de câmbio e internacional da Mirae Asset Brasil.
Para Lee, apesar da sazonalidade negativa do fluxo, a depreciação do real também está ligada ao movimento global de fortalecimento do dólar, com investidores reduzindo exposição a ativos de maior risco na véspera da virada do ano.
“É um período marcado pelo chamado fly to quality, com hedge funds buscando ativos considerados mais seguros”, afirmou.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, operou em leve alta ao longo do dia, acima dos 98 mil pontos, embora tenha rondado a estabilidade no fim da tarde.
No mercado internacional, o iene japonês se valorizou após novos sinais de aperto monetário pelo Banco do Japão (BoJ), que no último dia 19 elevou a taxa básica de juros em 25 pontos-base, para 0,75%, o maior nível em três décadas.
A valorização do iene pode ter provocado ajustes em operações de carry trade envolvendo moedas de países com juros elevados, o que ajuda a explicar o desempenho negativo das divisas latino-americanas, mesmo em um dia de alta do petróleo e do minério de ferro.
Entre as moedas da região, peso chileno e peso colombiano registraram as maiores perdas, com desvalorizações entre 0,90% e 1% frente ao dólar.

