
O dólar teve mais um dia de alta expressiva nesta quinta-feira (9), encerrando a sessão cotado a R$ 5,3750, no maior nível de fechamento desde 11 de setembro. A valorização da moeda americana foi de 0,58% no dia, somando ganhos de 0,72% na semana e de 0,98% nos primeiros sete pregões de outubro. No acumulado do ano, ainda registra queda de 13,03%.

O desempenho ruim do real frente a outras moedas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, chama atenção. A combinação entre instabilidade fiscal doméstica e movimento global de fortalecimento do dólar tem pressionado o câmbio brasileiro, que figura entre as divisas mais afetadas do dia.
Um dos principais gatilhos da insegurança local foi a rejeição, pela Câmara dos Deputados, da Medida Provisória que substituía o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida integrava a estratégia do governo federal para compensar perdas de arrecadação e cumprir metas fiscais futuras.
Para o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, os investidores voltaram a mirar o cenário fiscal brasileiro, que havia sido deixado em segundo plano durante boa parte do ano.
“A gente sempre imaginou que em algum momento o mercado voltaria a olhar para o fiscal. Parece que isso está acontecendo com a apreensão gerada pela questão específica da MP”, explica. Segundo Costa, a perda de arrecadação estimada em R$ 20 bilhões, somada a R$ 10 bilhões em novas despesas com o programa Pé-de-Meia, representa um desafio de R$ 30 bilhões no orçamento de 2025, já considerado superestimado em termos de receita.
No cenário internacional, o dólar também ganhou força. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes, ultrapassou a marca dos 99 pontos, atingindo máxima de 99,505. A alta semanal supera 1,70%, impulsionada pela fraqueza do euro e do iene, agravada pela crise política na Europa e pela continuidade do shutdown nos Estados Unidos, que já dura nove dias.
A queda das cotações do petróleo, influenciada por avanços nas negociações por um acordo de paz na Faixa de Gaza, também contribuiu para o enfraquecimento de moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil.
Em meio ao clima de incerteza, o diretor do Federal Reserve (Fed), Michael Barr, defendeu cautela na condução da política monetária. Segundo ele, ainda há grande incerteza sobre o rumo da economia americana e o risco de cortes prematuros de juros reacender a inflação.
“Se não houvesse preocupações com o mercado de trabalho, não teríamos precisado cortar os juros no mês passado”, afirmou.
Mesmo com o IPCA de setembro indicando uma trajetória de desaceleração da inflação, a avaliação predominante no mercado é que o Banco Central do Brasil deve manter a taxa Selic nos atuais níveis até, pelo menos, janeiro de 2026. A taxa de juros elevada contribui para conter a demanda por dólares e limitar o ritmo de desvalorização do real, mas não impede flutuações causadas por choques externos ou ruídos fiscais.
Luciano Costa lembra que boa parte da tese de enfraquecimento do dólar neste ano estava baseada na expectativa de desaceleração da economia dos EUA e cortes sucessivos de juros por parte do Fed.
“O que se vê, no entanto, é o oposto. O crescimento americano está surpreendendo positivamente, com revisões para cima do PIB, e os juros devem continuar altos. O diferencial de juros com outras economias já está estabelecido. Talvez estejamos assistindo à reversão daquele consenso de que o dólar seguiria se enfraquecendo até o fim do ano”, analisa.
