
O dólar registrou nesta terça-feira (2) a terceira alta consecutiva e encerrou o dia cotado a R$ 5,4748, com avanço de 0,64%. A moeda chegou a tocar R$ 5,50 pela manhã, mas moderou os ganhos ao longo da tarde. No acumulado de setembro, o dólar já sobe 0,97%, após cair 3,19% em agosto. No ano, ainda acumula queda de 11,41%.

A valorização foi impulsionada pelo avanço dos rendimentos de títulos públicos em economias desenvolvidas, reflexo de preocupações fiscais. No Reino Unido, por exemplo, o juro do Gilt de 30 anos atingiu o maior patamar em 27 anos após mudanças na equipe do primeiro-ministro Keir Starmer. Já nos Estados Unidos, os Treasuries de longo prazo se aproximaram de 5%, em meio a dúvidas sobre a autonomia do Federal Reserve diante de pressões do presidente Donald Trump.
“O dólar se apreciou frente praticamente a todas as principais moedas do mundo, refletindo preocupações crescentes com o endividamento de diversos governos dos países avançados, em particular França e Inglaterra”, explicou André Valério, economista sênior do banco Inter.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, avançava 0,60% no fim do dia, aos 98,300 pontos, após bater máxima de 98,595. A libra esterlina foi a mais penalizada, com queda de mais de 1%.
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, destacou que o movimento começou na Europa e contaminou os mercados emergentes: “Os juros longos subiram em todo o mundo, e isso reverberou no mercado de moedas, levando à alta global do dólar.”
No Brasil, o real seguiu o movimento externo sem sofrer perdas mais acentuadas que outras divisas. A cautela política com o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) teve impacto limitado no câmbio. “Hoje o comportamento do real parece estar mais ligado ao setor externo. O julgamento apenas começou, e o clima pode ficar mais tenso quando surgirem os primeiros votos”, avaliou Costa.
Também ficou em segundo plano a divulgação do PIB brasileiro do segundo trimestre, que cresceu 0,4% frente ao primeiro, levemente acima das projeções. O resultado reforçou a leitura de desaceleração da economia, com expectativa de início do ciclo de cortes da Selic apenas no primeiro trimestre de 2026.
Para Costa, o câmbio tende a se manter pressionado nos próximos meses. “Podemos ver o dólar em R$ 5,80 até o fim do ano, diante da sazonalidade desfavorável do fluxo comercial e do quadro fiscal desconfortável. Há uma assimetria de riscos para o real daqui para frente, com boas notícias cada vez mais escassas”, afirmou.
