
Após três pregões seguidos de queda, o dólar à vista fechou a sessão desta terça-feira, 1º, em alta de 0,50%, a R$ 5,4612, com máxima a R$ 5,4699 à tarde. Operadores afirmam que o desconforto com o imbróglio em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a alta das taxas dos Treasuries abriram espaço para uma realização de lucros no mercado local.

Embora analistas avaliem que há boas chances de nova rodada de apreciação do real no curto prazo, a tendência é que investidores adotem uma postura mais cautelosa daqui para frente, uma vez que o dólar recuou 4,99% em junho e fechou o primeiro semestre com desvalorização de 12,07%, nos menores níveis desde meados de setembro.
"A decisão do governo de judicializar a questão do IOF traz um pouco de insegurança para os investidores em um ambiente em que o dólar já caiu bastante", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem as incertezas em relação ao quadro fiscal doméstico podem pesar sobre o real nos próximos meses. "O exterior e a taxa Selic em 15% por enquanto mantêm o dólar em um nível para mim muito baixo".
Pela manhã, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) ação para restaurar os efeitos do decreto que aumentava as alíquotas do IOF. A argumentação é que a derrubada do decreto do governo pelo Congresso na última quarta-feira, 25, viola o princípio da separação dos poderes.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que para fechar o orçamento de 2026 com cumprimento da meta fiscal, de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), vai precisar do aumento do IOF, além de corte de R$ 15 bilhões em benefícios tributários e dos efeitos da Medida Provisória encaminhada ao Congresso com elevação de tributos sobre bets e aplicações financeiras, entre outros pontos.
"Mesmo com uma eventual vitória do governo no STF na questão do IOF, há um desgaste da relação entre Legislativo e Executiva, o que tende a piorar as chances de aprovação de projetos neste segundo semestre e comprometer as medidas de ajuste fiscal", afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho.
No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - apresentava leve recuo no fim do dia, na casa dos 96,700 pontos. As taxas dos Treasuries de 2 e 10 anos subiram com a aprovação, pelo Senado americano, do pacote orçamentário do presidente dos EUA, Donald Trump, que traz cortes de impostos e pode agravar a situação fiscal do país.
Entre indicadores dos EUA, o índice de atividade industrial (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 48,5 em maio para 49 em julho, praticamente em linha com as estimativas (49,1). Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade.
De outro lado, relatório Jolts mostrou abertura de 7,769 milhões de postos de trabalho em maio, acima da estimativa de analistas (7,3 milhões). A grande expectativa é pela divulgação, na quinta-feira, 3, do relatório mensal de emprego (payroll) de junho. Números mais fracos podem reforçar apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve já em julho.
Em participação no seminário promovido pelo Banco Central Europeu (BCE) hoje em Portugal, o presidente do Fed, Jerome Powell, não descartou a possibilidade de redução dos juros em julho. "Dependerá dos dados", afirmou Powell, quando indagado sobre o tema.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, lembra que o Dollar Index acumulou queda de mais de 10% no primeiro semestre e teve no segundo trimestre seu pior desempenho trimestral desde 1986. "Esse movimento está relacionado tanto ao excesso de compras no final do ano passado quanto às pressões políticas nos EUA para corte de juros. Donald Trump tem pressionado fortemente o Fed", afirma Gala, lembrando em no fim de 2024 o mercado embarcou no chamado Trump trade, esperando um fortalecimento da moeda americana.
