
O dólar teve uma queda significativa em relação ao real nesta quarta-feira, 23, refletindo o aumento do apetite por risco global, impulsionado pela expectativa de que os Estados Unidos firmem novos acordos comerciais. Após o anúncio de entendimento com o Japão e informações sobre conversas com a União Europeia (UE), o valor da moeda americana encerrou o dia a R$ 5,5230, registrando uma queda de 0,79%. Esse foi o menor fechamento desde 9 de julho de 2025, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou taxar o Brasil.

Durante o dia, o dólar alcançou uma máxima de R$ 5,5782, mas, no início da tarde, o câmbio sofreu uma sequência de baixas, chegando à mínima intradia de R$ 5,5161. A notícia de que os EUA estão avançando nas negociações com o Japão, um dos maiores parceiros comerciais dos EUA, foi vista com otimismo no mercado, gerando a expectativa de que novos acordos possam ser fechados com outros países.
"Se os EUA conseguiram fechar um acordo com o Japão, que tem uma indústria automobilística complexa, isso indica que há espaço para negociar com outros países", comenta Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital.
A pressão de queda sobre o dólar também foi intensificada pela desvalorização da moeda americana diante de outras divisas fortes, como o euro, após a divulgação de notícias que indicam um acordo em andamento entre os EUA e a União Europeia. De acordo com o Financial Times, o acordo deve reduzir tarifas de 30% para 15% sobre produtos europeus. Isso alimentou a expectativa de que o apetite por risco pode beneficiar as moedas emergentes, como o real.
O movimento de fluxo de capital para moedas emergentes é refletido na valorização do real, que se beneficia do otimismo global, especialmente com o posicionamento do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa Selic em 15% por um período prolongado. Essa expectativa tem atraído investidores em busca de rentabilidade, favorecendo o real.
André Valério, economista do Inter, explica que, mesmo com a incerteza sobre a tarifa dos EUA sobre o Brasil, a busca por ativos de maior risco contribuiu para a valorização da moeda brasileira. "Apesar da instabilidade interna, o real se beneficia do movimento global de valorização das moedas emergentes", diz.
A semana também tem sido marcada por uma baixa liquidez nos ativos domésticos, com Brasília em período de recesso. Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, a performance do câmbio nesta quarta-feira está mais ligada a um processo de "acomodação" após a recente piora nas expectativas relacionadas a tarifas.
O real também tem sido favorecido pelo chamado "carry trade", que se refere à estratégia de investimentos em países com taxas de juros mais altas, como o Brasil, onde o retorno da Selic atrai capital estrangeiro.
