
Após uma manhã de alta, o dólar perdeu força e encerrou esta quinta-feira (4) em leve queda, cotado a R$ 5,4468, abaixo de R$ 5,45 pela primeira vez em dois dias. A moeda norte-americana recuou 0,11%, em meio a um cenário de estabilidade nos mercados internacionais e expectativa sobre dados econômicos dos Estados Unidos.

Operadores não apontam um fator específico que tenha motivado a virada do dólar no Brasil, mas citam a moderação da valorização da moeda americana no exterior e um fluxo pontual de capital para a Bolsa brasileira, que subiu acompanhando o otimismo nas bolsas de Nova York.
A oscilação da moeda foi contida ao longo do dia, variando menos de três centavos entre a mínima (R$ 5,4425) e a máxima (R$ 5,4716). Com o resultado de hoje, o dólar acumula alta de 0,46% nos quatro primeiros pregões de setembro. No ano, a divisa já recua 11,87%.
A principal atenção dos investidores está voltada para a divulgação do relatório de emprego dos EUA (payroll), marcada para esta sexta-feira (5). Os dados são considerados fundamentais para as decisões do Federal Reserve (Fed) sobre a política de juros.
Segundo o economista Ian Lopes, da Valor Investimentos, os dados divulgados pelo ADP — que apontaram a criação de 54 mil vagas no setor privado em agosto, abaixo da projeção de 85 mil — reforçam a desaceleração do mercado de trabalho norte-americano. “O Fed tem sinalizado atenção a essa desaceleração. Isso fortalece a expectativa de cortes de juros ainda este ano, o que tende a pressionar o dólar para baixo”, analisa.
Outro dado importante divulgado recentemente foi o índice PMI de serviços, que subiu de 50,1 para 52 em agosto, indicando expansão na atividade econômica, embora abaixo do ritmo esperado.
À tarde, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, reforçou a possibilidade de corte de juros ao afirmar que seria apropriado levar a taxa para um patamar considerado neutro. Ele também minimizou os efeitos inflacionários das tarifas impostas pelo governo Donald Trump, apontando que esses impactos não devem ser duradouros.
No cenário global, o índice DXY — que mede a força do dólar frente a uma cesta de seis moedas — fechou o dia em 98,280 pontos, após atingir 98,444. Apesar da leve alta na semana, o DXY acumula queda de mais de 9% no ano.
No Brasil, o câmbio segue refletindo os movimentos do mercado externo. Após a forte valorização do dólar em julho, impulsionada pela tensão com os EUA e o chamado “tarifaço” de Trump, a moeda americana caiu 3,19% em agosto e agora oscila em torno de R$ 5,40.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, uma definição mais clara sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos pode levar o dólar a romper o patamar atual. “Se o Fed confirmar os cortes, o diferencial de juros entre Brasil e EUA aumentará, o que favorece a valorização do real”, explica.
Lima projeta um ciclo de cortes de até 75 pontos-base nos juros americanos e avalia que parte desse movimento já está precificada pelos investidores, mas ainda pode haver espaço para nova queda do dólar.
No plano interno, os fundamentos também contribuem para a estabilidade cambial. A balança comercial brasileira fechou agosto com superávit de US$ 6,133 bilhões, conforme divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC). O resultado veio levemente acima das projeções do mercado e reforça a entrada líquida de dólares no país.
