
O dólar encerrou esta sexta-feira (3) praticamente estável, cotado a R$ 5,3366, com leve queda de 0,05%. Apesar da valorização de 0,26% nos primeiros pregões de outubro, a moeda americana terminou a semana sem grandes variações, acumulando apenas 0,03% de alta. No acumulado de 2024, o recuo chega a 13,65%.

Durante a manhã, o câmbio chegou a superar os R$ 5,35, atingindo a máxima de R$ 5,3620. Analistas explicam que a movimentação foi influenciada por realização de lucros e operações pontuais, além do impacto do noticiário político.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria sinalizado apoio a uma possível candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, desde que Michelle Bolsonaro fosse indicada como vice. A especulação elevou expectativas de que, em um eventual governo de direita, haveria maior rigor fiscal a partir de 2027 — leitura que ajudou a sustentar o real durante a tarde.
“Foi a única notícia que sugere uma possível saída futura para a armadilha fiscal em que estamos”, disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. “O mercado sente que o governo pode ampliar gastos de olho na reeleição, por isso o dólar não cede tanto e segue acima de R$ 5,30, considerado um patamar de segurança.”
Apesar do enfraquecimento global do dólar, o real não conseguiu acompanhar totalmente o movimento externo. O índice DXY, que mede o desempenho da divisa frente a uma cesta de seis moedas fortes, fechou a semana em queda de 0,50%, influenciado pela paralisação parcial do governo dos Estados Unidos.
No Brasil, entretanto, o clima de cautela em relação às contas públicas continua pesando. Persistem as dúvidas sobre as compensações fiscais para a proposta de isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil. Além disso, rumores de que o governo estudaria zerar a tarifa de ônibus — negados pela equipe econômica — aumentaram a percepção de risco fiscal.
“O mercado ficou mais desconfiado com a possibilidade de programas de forte apelo popular, mas que pressionam o orçamento”, avaliou Andrea Damico, economista-chefe da BuysideBrazil. “Se já é difícil fechar as contas hoje, imagine com novas despesas. A ideia da tarifa zero para ônibus assustou e segue impactando o câmbio.”
Em evento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, destacou que o real deveria estar mais forte diante do comportamento internacional do dólar.
“Se o real acompanhasse de perto o movimento global, o câmbio estaria em torno de R$ 4,60. Se comparado a países emergentes semelhantes, deveria estar em R$ 4,90”, afirmou. Para ele, o cenário externo favorece uma taxa de câmbio mais próxima de R$ 5,00 do que de R$ 5,50 nos próximos meses.
