
Após um dia de instabilidade, o dólar à vista encerrou a quarta-feira (8) em leve queda de 0,11%, cotado a R$ 5,3442. Apesar da desvalorização, o real teve desempenho mais fraco que o de outras moedas emergentes, como o peso mexicano e o peso chileno. Analistas apontam que a cautela com o cenário político e fiscal no Brasil impediu uma queda maior da moeda americana.

No radar do mercado está a Medida Provisória (MP) que substitui o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O texto precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado ainda nesta quarta-feira para não perder a validade. A proposta, que prevê arrecadação de R$ 17 bilhões, é vista como essencial para o governo cumprir a meta fiscal de 2026.
“A apreensão com a MP e o discurso mais eleitoral do governo, com ideias como tarifa zero nos ônibus, geram preocupação entre investidores”, afirmou Felipe Garcia, chefe da mesa de operações do C6 Bank.
A especulação sobre a gratuidade no transporte público ganhou força nos últimos dias, mas o ministro da Casa Civil, Rui Costa, negou qualquer plano imediato. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas solicitou estudos sobre a viabilidade da proposta.
O mercado também acompanhou a nova pesquisa Genial/Quaest, que mostrou melhora na popularidade do governo Lula — 48% aprovam e 49% desaprovam a gestão, o melhor índice desde janeiro. O levantamento ainda indica aumento da rejeição à anistia dos condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Operadores avaliam que o real pode se fortalecer no médio prazo se o Fed (banco central dos EUA) continuar com cortes de juros, tendência que tende a enfraquecer o dólar globalmente. Ainda assim, o ambiente político interno continua sendo o principal limitador.
No exterior, o índice DXY, que mede o dólar frente a seis moedas fortes, subiu pelo terceiro dia seguido, superando brevemente os 99 mil pontos. A moeda americana ganhou força sobre o euro, pressionado pela crise política na França após a renúncia do premiê Sébastien Lecornu, e sobre o iene, que caiu mais de 0,5% com expectativas de uma política fiscal mais expansiva no Japão.
A valorização do petróleo, com alta superior a 1% nos contratos futuros, também influenciou o apetite por risco. Segundo Garcia, do C6, o real deve manter estabilidade até o fim do ano, com a perspectiva de um dólar mais fraco globalmente, apesar dos ruídos locais.
“Temos agora essa questão política na França e no Japão, mas a tendência global ainda é de um dólar fraco, o que favorece o real”, afirmou o analista.
A ata do Federal Reserve, divulgada nesta tarde, confirmou que o primeiro corte de juros de 2025, de 0,25 ponto percentual, não altera a expectativa de novas reduções até o fim do ano, reforçando o cenário de alívio cambial global.
