
O dólar à vista oscilou fortemente nesta quarta-feira (17), reagindo à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed) e à coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell. Depois de operar próximo à estabilidade pela manhã, a moeda norte-americana fechou o dia em alta de 0,06%, cotada a R$ 5,3012.

No acumulado do mês, a divisa ainda registra queda de 2,23% e, no ano, desvalorização de 14,22%. A leve alta interrompeu uma sequência de cinco pregões consecutivos de recuo, período em que o dólar acumulou perda de 2,54%.
Como esperado, o Fed reduziu a taxa básica em 25 pontos-base, levando-a para o intervalo entre 4,00% e 4,25%. O corte foi justificado pela piora do mercado de trabalho nos EUA. Segundo as projeções do comitê, conhecidas como dot plot, a autoridade monetária deve promover cortes adicionais que totalizam 75 pontos-base ainda em 2025.
A decisão, no entanto, não foi unânime. O recém-empossado diretor Stephen Miran, indicado pelo ex-presidente Donald Trump, votou por uma redução mais agressiva, de 50 pontos-base. Já Michelle Bowman e Christopher Waller, que haviam divergido em reuniões anteriores, desta vez acompanharam a maioria.
Após o anúncio, o dólar chegou a cair até R$ 5,2762, refletindo a perda de força global da moeda frente a pares fortes e emergentes. Com as falas de Powell, no entanto, o movimento perdeu intensidade, e a divisa voltou ao patamar de R$ 5,30. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras moedas, recuperou o sinal positivo e se aproximou dos 97 mil pontos.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, dois fatores chamaram atenção: a redução da projeção de juros para o fim de 2025 de 3,9% para 3,6% e o voto isolado de Miran. “A dissidência acabou ganhando protagonismo, pois o novo membro do board, empossado nesta semana, não hesitou em defender uma política mais acomodatícia. Isso reforça preocupações sobre a influência de Donald Trump nas decisões do Fed”, afirmou.
Na entrevista coletiva, Powell buscou moderar as expectativas do mercado. Ele destacou que os cortes de juros continuarão dependentes dos próximos indicadores econômicos e alertou que as projeções do dot plot não devem ser interpretadas como certezas, mas sim como probabilidades.
Segundo o presidente do Fed, a inflação pressionada pelo aumento de tarifas parece temporária, mas a instituição precisa garantir que não se torne persistente.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, avaliou que o posicionamento de Powell mostra que o Fed pretende apenas acelerar o início do ciclo de cortes, sem alterar sua estratégia de buscar uma taxa de juros neutra. “Apesar da redução, foi um corte hawkish. O Fed não está mirando em estímulo, mas apenas em adiantar o movimento. O voto por 50 pontos-base foi isolado e não representa a tendência do comitê”, afirmou.
