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BOLSA E DÓLAR

Com falas de Bolsonaro no 7 de Setembro, Bolsa fecha em queda de 3,8% e dólar vai até R$ 5,32

Investidores observaram principalmente a fala de Luiz Fux, presidente do STF, que viu crime de responsabilidade na conduta de Bolsonaro; Ibovespa encerrou no menor nível desde 24 de março

8 setembro 2021 - 18h30
O dólar começou o dia em alta nesta quarta-feira
O dólar começou o dia em alta nesta quarta-feira - (Foto: Reuters)

Os ativos domésticos tiveram um pregão negativo nesta quarta-feira, 8, refletindo o aumento da percepção de risco institucional no País, após os atos políticos promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro no 7 de Setembro. Hoje, o principal índice da Bolsa brasileira (B3) fechou em forte queda de 3,78%, aos 113.412,84 pontos, no menor nível desde março. Já no câmbio, o dólar registrou ganho de 2,89%, encerrando na máxima do dia, a R$ 5,3261 - maior valor desde 23 de agosto.

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Hoje, o índice também registrou sua maior queda diária, em porcentual, desde 8 de março. Na máxima, bateu em 117.866,14 na abertura. Hoje, os investidores ficaram especialmente atentos a dois discursos feitos nesta tarde: primeiro, o do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e depois, o do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

"Não vejo mais espaço para radicalismos e excessos", disse Lira que, como presidente da Câmara, é responsável por colocar em votação - ou não - a autorização a pedidos de impeachment do presidente, julgados posteriormente pelo Senado. Ele prometeu conversar com todos os Poderes e reafirmou que a Câmara segue trabalhando em cima das "pautas do Brasil". "O principal compromisso está marcado para 3 de outubro de 2022", concluiu Lira, referindo-se à data do primeiro turno da eleição presidencial, no ano que vem.

Em discurso duro na abertura da sessão plenária, Fux dirigiu críticas contundentes à postura de Bolsonaro, afirmou que "ninguém fechará" a Corte e que a incitação à propagação de ódio contra o STF e ao descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas, ilícitas e intoleráveis. "Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra suas instituições", afirmou Fux no primeiro pronunciamento após as manifestações de 7 de setembro.

Por sua vez, o presidente Bolsonaro buscou manter energizada sua base eleitoral mais fiel, que lhe assegurou "fotografia", conforme disse ontem, para levar adiante questionamentos às instituições, no que foi interpretado, inclusive pela imprensa estrangeira, como "prelúdio de golpe". O aceno da Avenida Paulista parece ter sido o mais próximo da promessa de campanha feita em 2018 pelo candidato Bolsonaro de que, uma vez eleito, iria "quebrar o sistema" - à época, aparentemente falando de corrupção e fisiologismo.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada.

Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada - (Foto: Agência Brasil)

Hoje, Bolsonaro afirmou que vai buscar uma solução para o "retrato" apresentado por manifestantes nos atos de ontem. "A gente vai buscar solução para o retrato. Não é fácil você mudar uma coisa que está décadas incrustada no poder. Alguns querem que eu faça assim e resolva", declarou a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada. A resposta foi dada a uma simpatizante que perguntou se ele havia conseguido "a fotografia que queria das manifestações".

"O Brasil está febril e a temperatura terá de ser tirada todo dia. Bolsonaro, mais agressivo, mantém os poderes tensionados - e a reação de Lira, no sentido de manter aberta a porta para diálogo entre os Poderes, é positiva. Brasília parece à beira do precipício, mas tende a vir a percepção de que o jogo atual é de 'perde, perde', com efeitos para a economia. O 7 de setembro não foi o desfecho, mas o início de algo que será concluído na eleição do ano que vem", diz Thomas Giuberti, sócio da Golden Investimentos, acrescentando que "à medida que o ambiente desanuviar, haverá um reequilíbrio", após a retração natural do interesse por ativos brasileiros no momento.

"É muito difícil fazer um prognóstico. Se não houver escalada, se a retórica se acomodar, se o calor todo diminuir, é possível uma recuperação dos ativos. A liquidez está alta, tudo dependerá dos desdobramentos, o que já é difícil de se antecipar entre os investidores locais, imagine então pelos estrangeiros", diz Julio Erse, sócio responsável por investimentos e gestão da Constância Investimentos.

"Hoje, pela performance dos preços (dos ativos), os investidores ficaram mais preocupados, na margem. O acontecimento (de ontem) foi grande, mas não tão diferente de outras coisas que já ocorreram. Com retórica inflamada e crise institucional instalada, a tendência é que os investidores fiquem mais avessos, o que já se refletiu hoje, seja na Bolsa, seja no câmbio e na curva de juros, que ficou mais aberta", diz Erse.

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