
Cotado a R$ 5,4202 no fechamento desta quarta-feira (2), o dólar comercial encerrou o dia em queda de 0,75%, atingindo o menor patamar desde 19 de agosto de 2023. A valorização do real ocorreu mesmo sem um único fator determinante, mas teve suporte em um conjunto de variáveis econômicas, tanto internas quanto externas.

Operadores de mercado atribuem o movimento à combinação de alta dos preços internacionais do minério de ferro e do petróleo — o que impulsiona moedas de países exportadores — e a dados fracos do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que reforçaram a possibilidade de cortes na taxa de juros americana ainda este ano.
Internamente, o principal fator que sustenta a valorização do real é a expectativa de que a taxa básica de juros, a Selic, permaneça em 15% por um “período bastante prolongado”. A avaliação foi reforçada nesta quarta-feira pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, em evento do Citi. Com juros altos, o Brasil segue atraente para investidores estrangeiros interessados em operações de “carry trade” — que envolvem tomar recursos em moedas com juros baixos e aplicar onde os rendimentos são maiores.
O dólar chegou a bater R$ 5,4812 no início do pregão, mas perdeu força ao longo do dia. A mínima foi registrada já no fim da tarde, a R$ 5,4162.
Cenário político e IOF - Apesar das incertezas envolvendo o impasse entre o governo federal e o Congresso sobre o aumento do IOF, o mercado financeiro não reagiu com pessimismo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ao Broadcast que a arrecadação prevista com o decreto do IOF é fundamental para o cumprimento da meta fiscal de 2025, que prevê superávit primário de 0,25% do PIB.
A disputa está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que deve buscar um canal de diálogo entre os Poderes. A expectativa é de que a decisão do Supremo evite impactos maiores no ambiente econômico.
“Mesmo com a tensão política, vemos entrada de recursos no país, aproveitando o juro real alto, que se aproxima de 10%. Se o governo mostrasse mais comprometimento com o equilíbrio fiscal, o dólar poderia cair ainda mais, talvez até abaixo de R$ 5,00”, afirmou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
No exterior, o dólar teve leve queda em relação a outras moedas fortes. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a seis divisas, recuou para a faixa dos 96,700 pontos.
O recuo foi influenciado por números do relatório da ADP, que mostrou a perda de 33 mil vagas de emprego no setor privado americano em junho — enquanto o mercado esperava a criação de ao menos 115 mil postos. Esse dado aumentou as apostas de que o Federal Reserve poderá iniciar um ciclo de cortes de juros já neste mês.
Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que não descarta uma redução dos juros em julho, embora tenha alertado para os riscos inflacionários causados por políticas tarifárias.
Projeções otimistas para o real - Gestoras de recursos e analistas de mercado continuam otimistas com o desempenho da moeda brasileira, especialmente diante da política monetária restritiva adotada pelo Banco Central. A Ibiuna Investimentos, por exemplo, avalia que o cenário global favorece moedas emergentes e aposta no enfraquecimento do dólar, com posição comprada em real, euro e peso mexicano.
Além dos juros elevados, a gestora destaca que o ambiente político começa a sinalizar possibilidade de alternância de poder nas eleições de 2026, o que poderia representar mudanças significativas na condução da política econômica.
