
A sexta-feira (20) trouxe alívio para o mercado financeiro brasileiro. O dólar encerrou o pregão cotado a R$ 6,0721, uma queda de 0,84% em relação ao dia anterior. O movimento foi impulsionado por duas forças principais: a intervenção histórica do Banco Central, que injetou US$ 7 bilhões no mercado cambial, e a aprovação do pacote de ajuste fiscal no Congresso, mesmo que desidratado.

O dia começou com o dólar em queda desde a abertura, refletindo também a melhora no cenário externo, com o dólar perdendo força frente a moedas de mercados emergentes. Durante a tarde, a moeda norte-americana chegou a tocar R$ 6,0458, acompanhando a recuperação do Ibovespa e o alívio nos juros futuros.
Por que isso importa para o Brasil? A valorização do real frente ao dólar tem impacto direto na vida do brasileiro. Um dólar mais baixo reduz os custos de importação de insumos e produtos, o que pode ajudar a frear a inflação. Preços de combustíveis, eletrônicos e alimentos importados podem sentir o impacto positivo se essa tendência se mantiver.
Além disso, o movimento indica maior confiança do mercado na condução econômica do país, especialmente após o presidente Lula afirmar, em vídeo publicado na rede social X, que Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, terá autonomia total em sua gestão.
"Jamais haverá qualquer interferência no trabalho que você tem no BC", disse Lula no vídeo, ao lado de Galípolo.
Intervenção histórica do Banco Central - O Banco Central realizou, somente em dezembro, a maior intervenção cambial da história do regime de câmbio flutuante no Brasil, somando US$ 27,7 bilhões. Esse número ultrapassa o recorde anterior, registrado em março de 2020, durante o auge da pandemia de covid-19.
As intervenções ocorreram tanto por meio de vendas diretas de dólares no mercado à vista (US$ 16,76 bilhões) quanto por operações de linha, com compromisso de recompra (US$ 11 bilhões).
De acordo com Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o BC atuou para garantir liquidez em um momento de demanda elevada por moeda estrangeira, principalmente devido a remessas de multinacionais para o exterior no fim do ano.
"O BC não está defendendo uma taxa fixa de câmbio, mas garantindo que não falte liquidez no mercado. Essa intervenção foi necessária para evitar movimentos especulativos que poderiam agravar ainda mais a situação", explicou Gala.
O pacote fiscal e o mercado - Outro ponto que contribuiu para a queda do dólar foi a aprovação do pacote de ajuste fiscal no Congresso Nacional. Apesar de alguns pontos terem sido enfraquecidos – como as regras para o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – o principal objetivo, que era alinhar o crescimento do salário mínimo ao arcabouço fiscal, foi mantido.
Esse ajuste traz maior previsibilidade para os investidores estrangeiros, que enxergam com bons olhos o compromisso do governo em controlar os gastos públicos.
E agora? Apesar do alívio no mercado, especialistas alertam que o cenário ainda é volátil. O dólar acumula alta de 1,18% em dezembro, após ganhos de 3,81% em novembro e 6,31% em outubro. Além disso, a moeda brasileira ainda amarga perdas significativas no acumulado do ano, figurando entre as mais desvalorizadas do mundo em 2024.
Para os próximos dias, a continuidade da queda dependerá do equilíbrio entre as intervenções do BC, o cumprimento das metas fiscais e a confiança dos investidores na autonomia do Banco Central sob a gestão de Gabriel Galípolo.
Enquanto isso, no curto prazo, o brasileiro pode se preparar para uma possível trégua nos preços de combustíveis, eletrônicos e viagens internacionais – pelo menos até o próximo susto no mercado.
