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BOLSA E DÓLAR

Dólar avança 0,76% com cautela diante de postura de Bolsonaro, enquanto bolsa recua 0,93%

O dólar até abriu a sessão em queda e desceu rapidamente à mínima de R$ 5,1699, mas alcançou a subida. Enquanto isso, a bolsa brasileira acumula perda de 2,26% na semana

10 setembro 2021 - 17h15
Dólar termina semana em alta
Dólar termina semana em alta - (FOTO: REUTERS/Mike Segar)

A cautela com a cena política local voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico ao longo da tarde desta sexta-feira, 10, com investidores ponderando os efeitos e a duração do aceno de paz do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) em nota oficial divulgada ontem.

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O dólar até abriu a sessão em queda e desceu rapidamente à mínima de R$ 5,1699 (-1,10%), esboçando dar continuidade ao mergulho na reta final do pregão de ontem, quando recuou 1,86%. Logo em seguida, porém, o movimento vendedor perdeu força, dando lugar a operações de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, o que pôs o dólar em terreno positivo já no fim da manhã.

A pá de cal nas esperanças de uma de apreciação do real veio no início da tarde, na esteira de fala do próprio Bolsonaro relativizando o tom das declarações da "carta à Nação", articulada em conjunto com o ex-presidente Michel Temer. Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente disse que a manifestação do dia 7 de setembro, quando atacou duramente o ministro do STF Alexandre de Moraes, "não foi em vão". Mais cedo, o presidente, ao tentar explicar a apoiadores seu recuo em relação às criticas ao Supremo, disse que não pode "falar para cima" porque o dólar dispara, o que resulta em aumento dos preços dos combustíveis.

O presidente, Jair Bolsonaro, atacou a oposiçãoDeclarações do presidente, Jair Bolsonaro, afetaram dólar - (Foto: Estadão)

Segundo operadores, o ziguezague na comunicação presidencial deixou o mercado com o pé atrás e estimulou a busca por proteção na véspera do fim de semana (em que estão previstas manifestações contra Bolsonaro), empurrando o dólar para cima.

Na reta final dos negócios, a moeda americana registrou novas máximas, correndo até R$ 5,2711 (+0,84%), em meio ao mau humor externo, com aprofundamento das perdas nas Bolsa de Nova York, o que contaminou o Ibovespa, e novas máximas do índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes. A moeda americana também ganhou certo fôlego em relação a divisas emergentes, diminuindo as perdas frente ao rand sul-africano e o peso mexicano, considerados pares do real.

No fim do dia, o dólar à vista terminou cotado a R$ 5,2671, em alta de 0,76%. Com isso, a moeda americana encerrou a semana com valorização de 1,59%. No acumulado do mês, o dólar sobe 1,84%.

Na avaliação da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila, Abdelmalack, a manifestação de Bolsonaro ontem foi positiva, ainda mais por contar com o auxílio de Temer, visto como um hábil articulador político, mas ainda não assegura uma mudança definitiva na postura do presidente. "Não se sabe como vai ser daqui para frente. É natural os investidores adotarem uma postura mais de cautela quando chega o fim de semana", afirma Abdelmalack, ressaltando que, com as dúvidas ainda sobre o Orçamento de 2022 e todos os ruídos políticos, o que impede uma depreciação maior da taxa de câmbio é processo de alta da taxa Selic.

Ainda há no mercado inquietações sobre como o governo vai compatibilizar o pagamento de precatórios e um reajuste do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, com o teto de gastos, considerado a âncora do regime fiscal brasileiro. Em evento promovido pelo banco Credit Suisse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse hoje que vai se reunir com os presidente das duas Casas do Congresso e do STF para falar da questão dos precatórios que acredita em uma solução" respeitando o teto de gastos".

Na conclusão de semana mais curta e bem movimentada pelo feriado, o Ibovespa chegou ao fim desta semana na mínima da sessão, em baixa de 0,93%, aos 114.285,93 pontos, ainda assim de forma mais tranquila do que nas duas anteriores, em que a queda livre de 3,78% no pós-Independência, maior perda desde 8 de março, deu lugar no dia seguinte a recuperação parcial (+1,72%) construída em menos de 15 minutos, até a máxima, perto do fechamento. No intervalo de quatro sessões, o índice da B3 acumulou perda de 2,26%, um pouco mais acomodada do que a colhida na semana anterior, quando recuou 3,10%. O giro ficou hoje em R$ 34,8 bilhões, vindo de R$ 39,0 bilhões e R$ 40,1 bilhões nas sessões precedentes. No mês, o Ibovespa acumula agora perda de 3,78%, cedendo 3,98% ao longo do ano.

IbovespaBolsa brasileira termina semana em queda - (Foto: Estadão)

Apesar da afirmação, feita hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, de que o 7 de setembro de 2021 "não foi em vão", no fato precisou recuar rapidamente da retórica inflamada adotada em Brasília e especialmente em São Paulo no feriado da Pátria, no qual buscou energizar seguidores mais fiéis, entre os quais, caminhoneiros que, dias depois de ocuparem a Esplanada dos Ministérios e de iniciarem mobilização nacional, desfizeram, a pedido do próprio presidente, bloqueios parciais que haviam montado em estradas de diversos estados do País - agora, no fim do movimento, limitados a apenas três unidades da federação (RS, SC e RO).

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou hoje que a carta pedindo harmonização entre os poderes, assinada pelo presidente Bolsonaro, abre espaço para que se retome diálogo respeitoso entre o Executivo e o Judiciário. Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta na pacificação e na continuidade das discussões de reformas. "A iniciativa do presidente ontem colocou tudo de volta aos trilhos", disse Guedes em evento virtual do Credit Suisse.

Por quanto tempo a pacificação persistirá é uma dúvida que permanece em aberto. Ainda assim, apesar da alta no dólar e de queda do Ibovespa mais significativas ao longo da tarde, um como outro mostraram padrão relativamente acomodado nesta beirada de fim de semana, favorecidos, mais cedo na sessão, por leitura acima do esperado para as vendas do varejo em julho (+1,2%, na margem), divulgada pela manhã, bem como pela desmobilização dos caminhoneiros, ao longo do dia.

"Tivemos um dia negativo também no exterior, e a agenda política se estende ao fim de semana, com as manifestações do próximo domingo, dia 12. Então é natural a cautela dos investidores, a diminuição de posições em véspera de fim de semana. A volatilidade não acabou, é uma realidade que deve se estender à eleição do ano que vem, até que se tenha um quadro mais claro. A volatilidade veio para ficar", diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, mencionando também como fator de atenção importantes deliberações sobre política monetária, aqui e nos Estados Unidos, nas reuniões de 21 e 22 de setembro, que se aproximam.

Na tarde de hoje, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, pediu destaque no julgamento do caso, de relatoria da ministra Cármen Lúcia, que trata da falta de norma que regulamente o prazo para o presidente da Câmara decidir sobre pedidos de impeachment contra o presidente da República. Lewandowski entende que a importância do tema demanda uma análise mais aprofundada, em sessão presencial, não em julgamento virtual.

A relação entre Executivo e STF, ponto central da crise institucional acelerada pela retórica presidencial nas últimas semanas, permanece sob a lupa do mercado, após a trégua costurada no dia anterior com auxílio do ex-presidente Michel Temer, em declaração por escrito à nação aconselhada a Bolsonaro.

Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para Meliuz (+8,41%), à frente de Minerva (+6,10%) e de BRF (+3,03%). Na ponta oposta, Magazine Luiza cedeu 8,86%, Banco Pan, 7,08%, e Locamerica, 5,46%. Os grandes bancos tiveram desempenho negativo, à exceção de BB ON (+0,31%), em dia de variação moderada para as ações de commodities, com Petrobras ON e PN em baixa respectivamente de 0,08% e 0,63%, e Vale ON em alta de 0,12%.

No exterior, o dia ficou dividido entre fatores positivos, com a conversa telefônica entre os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Xi Jinping, da China, "para evitar que a rivalidade comercial e tecnológica entre os dois países se torne um conflito", e desdobramentos negativos, como as preocupações em torno da desaceleração da economia, em razão da variante Delta e de indefinições quanto à retirada de estímulos e a condução da política monetária nos EUA, observa em nota a equipe de análise da Terra Investimentos.

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