
O governo federal apresentou nesta quinta-feira (18) a Avaliação Estratégica do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050 com um diagnóstico duro sobre a infraestrutura de transportes do país. O estudo aponta desequilíbrio na matriz, dependência excessiva do modal rodoviário, subutilização das ferrovias, gargalos no escoamento de cargas e falhas de integração no transporte de passageiros. A análise também destaca baixa qualidade de rodovias secundárias, saturação de eixos logísticos e vulnerabilidade crescente a eventos climáticos extremos.
O PNL é o instrumento de planejamento de longo prazo para a infraestrutura de transportes do Brasil. Ele integra os modais rodoviário, ferroviário, hidroviário e aéreo com o objetivo de reduzir custos, aumentar eficiência, diminuir emissões, garantir o escoamento da produção e melhorar o deslocamento da população. A Avaliação Estratégica apresentada agora, feita em conjunto pelo Ministério dos Transportes e pelo Ministério de Portos e Aeroportos, orienta prioridades de investimento e modernização até 2050.
Doze problemas estruturais na matriz de transportes - O documento elenca 12 problemas abrangentes que afetam todo o sistema de transportes. Entre eles estão a concentração no modal rodoviário, a baixa integração entre modais, a falta de segurança pública, a escassez de mão de obra e limitações institucionais à multimodalidade.
A avaliação chama atenção ainda para a vulnerabilidade da infraestrutura a eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e as secas severas no Norte do país nos últimos anos, que interromperam rotas e expuseram fragilidades da rede logística.
Cargas: gargalos no escoamento e no abastecimento - No transporte de cargas, o PNL 2050 mapeou problemas específicos em três grandes eixos. No escoamento para exportação, com foco na origem das cargas, foram identificados 18 pontos críticos. No escoamento para o mercado interno, também na origem, foram apontados outros 23 problemas. Já no eixo de abastecimento interno, com foco no destino, o diagnóstico registrou 13 problemas.
Esses gargalos envolvem desde capacidade insuficiente de infraestrutura até falhas de conexão entre modais, o que encarece o frete, reduz competitividade e aumenta o tempo de transporte.
Passageiros: saturação e exclusão territorial - Pela primeira vez, o PNL incorporou de forma sistemática a análise da intermodalidade no transporte de passageiros. O levantamento identificou três problemas ligados à saturação de eixos consolidados e quatro relacionados à falta de acessibilidade.
O diagnóstico destaca a saturação de infraestrutura aeroportuária e rodoviária e a competição entre modais, em vez de integração. Também aponta exclusão territorial, especialmente na região Norte, por falta de infraestrutura adequada e baixa oferta de voos regionais.
Metodologia e participação do setor - A Avaliação Estratégica integra o Planejamento Integrado de Transportes (PIT) e tem como diretriz buscar uma matriz mais equilibrada, com incentivo à intermodalidade e ao uso de modos mais eficientes sob o ponto de vista operacional e econômico. O trabalho consolida o diagnóstico de problemas, deficiências e oportunidades com base em dados de 2023.
O estudo foi estruturado em quatro etapas: obtenção de insumos, formação do diagnóstico, definição de objetivos de atuação e construção do cenário-meta. Para embasar as análises, foram realizadas 95 entrevistas com empresas e associações dos setores produtivo e de transportes, além de um survey que recebeu 460 respostas. O modelo de simulação da Infra S.A. foi utilizado para projeções, e houve entrevistas em todos os 27 estados.
Consulta pública abre próxima fase do PNL 2050 - Os resultados da avaliação subsidiam a definição do cenário-meta do PNL 2050, cujos indicadores passam a orientar metas do PIT. Durante o evento de apresentação, o governo também publicou portaria abrindo consulta pública sobre o relatório.
A participação popular e do setor produtivo poderá ser feita pela plataforma Participa + Brasil entre esta sexta-feira (19) e 18 de janeiro do próximo ano. As contribuições servirão para ajustar o cenário-meta e detalhar as prioridades de investimento na infraestrutura de transportes brasileira até 2050.

