
Alerta ligado no setor elétrico. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou que o risco de déficit de potência no Brasil piorou para os próximos anos. O novo Plano de Operação Energética (PEN) 2025-2029 indica que o sistema pode não ter energia suficiente nos horários de maior consumo, especialmente no período noturno. Diante disso, o órgão pode recomendar o retorno do horário de verão já em 2024, como medida emergencial para aliviar a carga.

A informação foi confirmada pelo diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zucarato. Segundo ele, a medida deve ser avaliada com urgência e, se for aprovada, precisa ser anunciada até agosto para ser implantada ainda este ano. A expectativa é que o horário de verão possa garantir um reforço de até 2 gigawatts (GW) ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Crescimento solar não garante potência à noite - Mesmo com o avanço da geração de energia solar, o sistema elétrico brasileiro enfrenta dificuldades para suprir a demanda noturna. Isso porque painéis solares não produzem energia após o pôr do sol, exatamente quando o consumo costuma aumentar.
Entre 2025 e 2029, a capacidade instalada total do SIN deve passar de 232 GW para 268 GW, segundo os dados do PEN. No entanto, a maior parte desse crescimento vem justamente da energia solar — tanto na geração distribuída (pequenas unidades, como residências e comércios), que deve saltar de 35 GW para 64 GW, quanto na centralizada, que vai de 16,5 GW para 24 GW. A energia eólica também deve crescer, mas em menor escala, de 32,5 GW para 36 GW.
“O crescimento é real, mas ocorre em fontes que não resolvem o problema da potência à noite”, afirmou Zucarato. “O que víamos como risco no fim do horizonte agora já se tornou um problema imediato.”
Outro fator que contribuiu para o quadro atual é a ausência de leilões anuais para contratação de energia, recomendados pelo ONS desde 2021. Neste ano, nenhuma licitação foi realizada. Com isso, o governo pode ter que recorrer a alternativas mais urgentes, como antecipar a entrada de projetos já contratados no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2021, aumentar o uso de termelétricas e até importar 2,5 GW de energia de países vizinhos.
Se as chuvas atrasarem novamente, o cenário pode se complicar ainda mais nos meses de outubro e novembro, considerados críticos para o abastecimento. Nesse caso, a única saída será realizar o LRCAP o quanto antes, provavelmente já em 2026.
Redução voluntária do consumo entra no radar - Como tentativa de aliviar o sistema, o ONS também aposta em programas de resposta da demanda — acordos com grandes consumidores para reduzir o uso de energia nos horários de pico em troca de compensações financeiras. No ano passado, a economia obtida com essa medida foi de apenas 100 megawatts (MW), mas novas contratações estão previstas para o dia 16 de julho.
“A situação é delicada. Já estamos em um déficit estrutural. Não há mais tempo para ações que exijam planejamento de longo prazo. Precisamos de soluções para agora”, concluiu Zucarato.
