
Com sucessivos déficits desde 2022, os Correios anunciaram nesta segunda-feira (29) um plano de reestruturação que prevê, entre outras medidas, a possibilidade de mudança no regime societário da estatal, incluindo a abertura de capital. A proposta ainda está em fase de estudos, mas pode transformar a empresa, hoje 100% pública, em uma companhia de economia mista, nos moldes da Petrobras e do Banco do Brasil.
O anúncio foi feito em coletiva de imprensa em Brasília pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, que destacou que não há, neste momento, uma proposta formal de privatização. Segundo ele, a empresa avalia alternativas para se adaptar ao ambiente competitivo do setor de logística e reequilibrar as contas.
“Hoje não tem um olhar sobre privatização, mas tem um olhar sobre parcerias, inclusive societárias. Existem exemplos de sociedades de economia mista que funcionam. Em outros casos, há parcerias específicas para temas relevantes, como negócios financeiros e seguridade”, afirmou Rondon.
De acordo com o presidente da estatal, a definição sobre o modelo a ser adotado dependerá das conclusões de uma consultoria contratada, responsável por apresentar propostas para a reestruturação da empresa. “Não tem nenhuma definição de que tipo de parceria vai ser feita ainda”, ressaltou.
O plano divulgado pelos Correios também prevê o fechamento de mil agências próprias em todo o país e a redução de despesas em cerca de R$ 5 bilhões até 2028. Entre as ações previstas estão a venda de imóveis e a implementação de dois Programas de Demissão Voluntária (PDVs), com a meta de reduzir o quadro de funcionários em aproximadamente 15 mil empregados até 2027.
Segundo a direção da estatal, as medidas são necessárias para adequar os Correios a um mercado cada vez mais concorrencial e tecnológico, marcado pela forte atuação de empresas privadas no setor de logística e comércio eletrônico.
Empréstimo de R$ 12 bilhões - Para garantir o funcionamento da empresa no curto prazo, os Correios anunciaram ainda a contratação de um empréstimo de R$ 12 bilhões, com prazo de carência de três anos. Desse total, R$ 10 bilhões serão liberados ainda em 2025 e os R$ 2 bilhões restantes em janeiro de 2026.
O contrato foi assinado na última sexta-feira (26) com cinco instituições financeiras. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco aportarão R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander contribuirão com R$ 1,5 bilhão cada.
Segundo Emmanoel Rondon, os recursos serão utilizados para regularizar pagamentos e recuperar a credibilidade da estatal. “Esse empréstimo vai permitir a adimplência nos contratos com fornecedores, nos benefícios de empregados e nos tributos. Com as contas em dia e a qualidade da operação recuperada, a gente volta a ter confiança no mercado”, afirmou.
Mesmo com o financiamento, a empresa ainda busca mais R$ 8 bilhões em receitas para equilibrar as contas. Esses recursos poderão vir de novos empréstimos ou de aportes do Tesouro Nacional, possibilidade que ainda será avaliada ao longo de 2026.
O plano de reestruturação era esperado diante dos resultados negativos acumulados pela estatal nos últimos anos. Segundo Rondon, os Correios enfrentam um déficit estrutural anual de cerca de R$ 4 bilhões, atribuído principalmente ao cumprimento da regra de universalização dos serviços postais.
Em 2025, a empresa já registra saldo negativo de R$ 6 bilhões nos nove primeiros meses do ano e um patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões.
A crise, segundo a direção dos Correios, não é exclusiva do Brasil. A estatal atribui parte das dificuldades à digitalização das comunicações, que reduziu drasticamente o envio de cartas, e à concorrência no comércio eletrônico.
“É uma dinâmica de mercado que aconteceu no mundo inteiro. Algumas empresas de correios conseguiram se adaptar, outras ainda registram prejuízos”, afirmou Rondon, citando como exemplo o United States Postal Service (USPS), que também enfrenta déficits bilionários e anunciou recentemente medidas de ajuste.
As propostas agora aguardam análise técnica e política, enquanto o governo federal reafirma que, apesar das mudanças em estudo, não há decisão sobre privatização da empresa.

