
O futuro da Hidrovia do Rio Paraguai começa a ser desenhado. Prevista para 2026, a concessão do trecho sul do rio tem potencial para revolucionar o transporte de cargas na região e trazer benefícios econômicos significativos. Segundo estudos da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), a empresa que assumir a operação de 590 km do leito poderá movimentar até 13,6 milhões de toneladas de minério de ferro já no primeiro ano, alcançando 22,8 milhões de toneladas ao fim de 15 anos.

Com um lucro projetado de R$ 102,3 milhões no período inicial da concessão, a hidrovia se consolida como peça-chave no escoamento de mercadorias brasileiras e bolivianas, além de diversificar as operações logísticas com produtos como soja, graneis líquidos e madeira. A consulta pública, lançada em dezembro pelo Ministério de Portos e Aeroportos, está em andamento, e o leilão está previsto para o segundo semestre deste ano.
Hidrovia do Rio Paraguai: transporte de minério de ferro deve atingir 13,6 milhões de toneladas em 2026 com a concessão do trecho sul.
Uma hidrovia estratégica - A área a ser concedida abrange o trecho entre Corumbá e a foz do Rio Apa, em Porto Murtinho, incluindo o Canal do Tamengo, com 10 km adicionais. Atualmente, o Rio Paraguai é usado principalmente para o transporte de minério de ferro, mas a concessão promete ampliar o leque de produtos e aumentar o período de navegação em dois meses por ano, segundo Jaime Verruck, secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento.
“No ano passado, tivemos sete milhões de toneladas de minério paradas nos portos por falta de capacidade de escoamento. Com a concessão e a dragagem, será possível ampliar o período de navegação, mesmo que ainda não alcancemos os 365 dias no ano”, afirmou Verruck em entrevista.
A estrutura já existente no tramo sul, considerada mais profunda e menos sinuosa, conta com três terminais portuários que possuem condições favoráveis para navegação comercial. O objetivo é transformar o trecho em uma rota logística eficiente e competitiva, com papel estratégico no comércio regional e continental.
Rota logística do escoamento de minério de ferro no Mato Grosso do Sul. O trecho liga as minas de Ladário e Corumbá aos portos de Porto Murtinho, viabilizando a exportação pelo Rio Paraguai. (Fonte: Ministério de Minas e Energia, 2022)
Impacto econômico e diversificação de cargas - O minério de ferro, produzido principalmente em Corumbá e Ladário, continuará como a principal carga transportada, mas os estudos indicam que outros produtos devem ganhar espaço ao longo do tempo. A soja, por exemplo, enfrenta desafios relacionados ao custo do frete hidroviário, mas a expectativa é alcançar 2,5 milhões de toneladas transportadas pela hidrovia até 2045.
O transporte de madeira também deve crescer, com a possibilidade de suprir a demanda do mercado paraguaio para a produção de celulose. Estima-se que 600 mil toneladas de toras de madeira possam ser exportadas anualmente via Porto Murtinho.
Além disso, os graneis líquidos – como óleos vegetais e combustíveis – representam outra frente de movimentação promissora, especialmente para cargas bolivianas.
Investimentos e ganhos esperados - O contrato de concessão, com duração inicial de 15 anos, prevê um investimento de R$ 63,8 milhões em melhorias, incluindo dragagens, monitoramento hidrológico e gestão de tráfego. A concessionária terá como fonte de receita a cobrança de tarifas proporcionais à tonelagem transportada.
No Canal do Tamengo, por exemplo, a tarifa inicial será de R$ 0,89 por tonelada, subindo para R$ 1,27 a partir do sexto ano. Já no trecho de Porto Murtinho à foz do Rio Apa, as tarifas começarão em R$ 0,10 por tonelada e serão reajustadas para R$ 0,14 no mesmo período.
Mapa da área de concessão da Hidrovia do Rio Paraguai. O trecho concedido inclui 590 km entre Corumbá e a foz do Rio Apa, em Porto Murtinho, além do Canal do Tamengo. (Fonte: Infra S.A.)
Um futuro de novas possibilidades - A concessão da Hidrovia do Rio Paraguai não é apenas um projeto logístico, mas uma oportunidade de reposicionar o Brasil no mapa do comércio fluvial internacional. Além de impulsionar o transporte de minério e outros produtos, a iniciativa promete atrair investimentos para a região, gerar empregos e aumentar a competitividade do agronegócio e da mineração no Mato Grosso do Sul.
Com a proximidade do leilão e as perspectivas de crescimento, a hidrovia está prestes a se tornar um exemplo de como a infraestrutura pode ser transformada por meio de parcerias público-privadas. O Rio Paraguai, que já desempenha um papel vital no escoamento de riquezas, caminha para se consolidar como um dos principais corredores logísticos da América do Sul.
