bonito
INFLAÇÃO

Carne cara, café amargo: por que o alívio nos preços agropecuários será tímido em 2025

Cenário para o boi gordo e o café mantém pressão sobre a inflação no atacado, enquanto proteínas seguem como ponto crítico no IPCA

25 janeiro 2025 - 13h45
Carne e café mantêm pressão inflacionária no atacado em 2025, limitando o impacto da supersafra de soja nos preços agropecuários.
Carne e café mantêm pressão inflacionária no atacado em 2025, limitando o impacto da supersafra de soja nos preços agropecuários. - (Foto: Divulgação)

Em um país onde o churrasco e o cafezinho estão tão entranhados na cultura quanto o futebol, a notícia não é boa: 2025 não será o ano em que esses itens ficarão mais baratos. Economistas já preveem que, mesmo com a tão esperada supersafra de soja, a carne bovina e o café devem impedir um alívio significativo nos preços agropecuários. A inflação no atacado, que registrou uma alta de 15,20% em 2024, deve desacelerar para 4,7% neste ano – mas não o suficiente para escapar do peso das proteínas e do grão na mesa dos brasileiros.

Canal WhatsApp

“A carne vai ficar cara e isso vai ter efeitos políticos”, resume Francisco Pessoa, economista da LCA 4intelligence. Segundo ele, o ciclo pecuário do boi gordo, somado aos efeitos climáticos e à valorização do dólar no final de 2024, desenha um cenário de alta de até 17% no preço da carne na ponta e de 35% na média anual. “Se eu tivesse que apostar, diria que o boi gordo vai continuar subindo até 2027”, acrescenta.

O efeito dominó das proteínas - Quando a carne bovina sobe, o impacto se espalha. O preço do frango, da carne suína e até dos ovos tende a acompanhar a tendência, pressionando o orçamento das famílias e complicando a tarefa de baixar a inflação da alimentação domiciliar, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Fabio Romão, também da LCA, estima que os preços das carnes no IPCA devem registrar alta de 16,4% em 2025, após um salto de 20,84% no ano anterior. “As proteínas são um ponto de pressão importante. Esse cenário vai continuar apertado ao longo do ano”, afirma.

O amargo café do dia - Se a carne pesa no prato, o café amarga no bolso. O grão encerrou 2024 com uma impressionante alta de 120,40% no atacado, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Para Matheus Dias, economista da instituição, mesmo que o café não repita esse desempenho assustador, ele continuará pressionando os preços agropecuários.

“O café tem um peso significativo no IPA-Agro e deve continuar impactando a inflação em 2025, embora em menor intensidade”, explica Dias. O cenário é agravado por repasses adiados em 2024 e pela valorização do dólar, que torna as exportações mais atraentes para os produtores brasileiros.

Supersafra e expectativas frustradas - A soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, poderia ser o protagonista de um alívio mais amplo. A expectativa de uma supersafra em 2025 cria a possibilidade de queda nos preços de grãos e derivados, mas isso será insuficiente para neutralizar a pressão das proteínas e do café no índice geral.

“O cenário para a soja é positivo, mas, quando olhamos o todo, os preços agropecuários não devem ter um alívio tão expressivo quanto muitos esperam”, pondera Romão.

A mesa mais cara - Para quem acompanha a inflação no atacado como termômetro para o varejo, o alerta é claro: a alimentação domiciliar deve manter uma alta em torno de 8,2% em 2025, praticamente estável em relação aos 8,23% registrados no ano passado.

O que isso significa para o consumidor? Mais dificuldade em equilibrar o orçamento familiar e menos alívio nos preços dos itens essenciais, especialmente as proteínas, que seguem como vilãs do cardápio.

Em 2025, o Brasil pode colher mais soja do que nunca, mas o churrasco e o café continuam longe de ser um luxo acessível para todos.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop

Deixe seu Comentário

Veja Também

Mais Lidas