
O ex-presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 25, que não acredita que o Brasil tenha capacidade para reduzir a taxa básica de juros para níveis muito abaixo do atual. Durante sua participação no Seminário Brasil 2025, do Grupo Esfera Brasil, o ex-banqueiro central explicou que a redução estrutural dos juros dependeria de um "choque fiscal positivo", que poderia ser alcançado por meio de um "novo regime fiscal".

A importância do choque fiscal
Campos Neto explicou que um "choque fiscal positivo" envolveria uma mudança significativa na credibilidade fiscal do Brasil, o que permitiria a queda das curvas de juros longas. A partir disso, o Brasil poderia iniciar um ciclo de redução da taxa de juros de forma mais consistente.
“Quando se tem um novo regime com credibilidade fiscal, as curvas de juros longas podem cair, e isso abre espaço para a redução de juros”, afirmou Campos Neto, destacando a importância da credibilidade na política fiscal para sustentar uma trajetória de juros mais baixos a longo prazo.
Limitações do corte de juros
O ex-presidente do BC também fez uma análise histórica sobre a política monetária, apontando que é difícil reduzir os juros quando a taxa longa está muito alta. Segundo ele, a curva de juros longos é um indicador chave para a capacidade do BC de cortar juros, já que se ela estiver em alta, limita a margem para cortes adicionais.
Campos Neto lembrou de episódios anteriores, como em 2015 e 2016, quando tentativas de forçar a redução da taxa básica de juros, mesmo com a taxa longa alta, resultaram em ajustes temporários que depois levaram a taxa de juros de volta para níveis mais altos do que antes.
Desafios para a redução estrutural dos juros
Em sua análise, Campos Neto reforçou que, no curto prazo, os juros podem até cair um pouco, mas isso não será suficiente para mudar a trajetória da dívida pública do Brasil. Para ter uma redução estrutural na taxa de juros, o país precisaria de uma mudança significativa na gestão fiscal, com um governo com uma máquina pública menor e uma carga tributária mais eficiente, em diálogo com o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
“Para ter juros estruturalmente mais baixos, é preciso um fiscal estruturalmente diferente. O cenário de crédito subsidiado no Brasil é bastante alto, e isso impacta diretamente a taxa de juros”, acrescentou o ex-presidente do BC.
