
A dificuldade de manter o salário até o fim do mês continua sendo uma realidade para a maioria dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa realizada pela SalaryFits, empresa da Serasa Experian, 54% dos trabalhadores com carteira assinada ou atuando como Pessoa Jurídica (PJ) esgotam a renda antes de o mês terminar, em 2025.

Embora o dado represente uma melhora em relação a 2024, quando o índice era de 62%, a situação ainda é preocupante. Para o CEO da SalaryFits, Délber Lage, a redução é tímida diante da proporção de pessoas que continuam enfrentando dificuldades para equilibrar o orçamento.
“A maioria está no limite do seu orçamento e apenas 25% têm uma folga para bancar despesas extras”, afirma Lage.
A pesquisa, que entrevistou 1.029 funcionários de empresas públicas e privadas, revela um retrato claro da fragilidade financeira do trabalhador brasileiro, mesmo com o mercado de trabalho apresentando sinais de recuperação e o aumento da renda média.
Brasileiros não têm reserva para imprevistos
Segundo o levantamento, 75% dos trabalhadores não conseguiriam arcar com uma despesa inesperada de R$ 10 mil, enquanto 66% enfrentaram problemas financeiros nos últimos cinco anos. Um terço dos entrevistados (33%) ficou com o nome negativado em 2024, e 17% ainda não conseguiram sair dessa situação.
Além disso, dados do Banco Central apontam que o peso das dívidas básicas no orçamento das famílias subiu de 25,8% da renda em maio de 2024 para 27,3% em abril de 2025. Essa pressão ocorre mesmo com o crescimento real da renda e é agravada por fatores como a inflação de itens essenciais, principalmente energia elétrica e serviços.
Volta aos bicos e crédito de alto custo
Diante da escassez de renda disponível e da dificuldade em acessar crédito barato, muitos trabalhadores têm recorrido a fontes alternativas de sustento, como renda extra, cartões de crédito, cheque especial e empréstimos bancários.
O operador de telemarketing Jeanderson dos Santos, de 32 anos, é um exemplo disso. Ele recebe R$ 1,8 mil por mês, mas no dia seguinte ao pagamento, o valor já foi todo destinado às contas básicas.
“Recebo no quinto dia útil e no sexto dia tudo já foi embora”, relata.
Entre as contas que consomem o salário, estão luz, água, internet, celular, cartão de crédito e um empréstimo bancário. Para complementar a renda, Santos trabalha como DJ aos finais de semana e chega a faturar até R$ 1,4 mil por mês com os bicos.
“Isso ajuda a segurar as contas”, explica ele.
Segundo a pesquisa, 49% dos trabalhadores que não chegam ao fim do mês com salário recorrem a atividades paralelas para cobrir o orçamento. Outros 23% utilizam o cartão de crédito, 12% recorrem ao cheque especial, 8% atuam como freelancers, 3% pedem adiantamento salarial e 5% não têm nenhuma alternativa de renda extra, vivendo em situação ainda mais crítica.
Crédito informal desapareceu
Para Délber Lage, parte do problema está na ausência de fontes de crédito informais que, no passado, funcionavam como uma válvula de escape para famílias com renda apertada.
“Nos anos 1990, o brasileiro contava com a caderneta da mercearia e o cheque pré-datado. Hoje, essas alternativas sumiram”, observa o CEO da SalaryFits.
Atualmente, quem consegue acesso ao crédito de curto prazo é o trabalhador com renda mais alta, que possui limite no cartão de crédito e pode planejar o vencimento da fatura com o dia do pagamento. A parcela mais pobre da população não dispõe desse privilégio e, por isso, enfrenta mais dificuldade para fechar as contas.
Salário vai embora com contas básicas
O levantamento também revela o destino da maior parte da renda dos trabalhadores brasileiros. Os principais gastos são com alimentação (77%) e contas essenciais como água e luz (71%). Em seguida vêm o financiamento de imóveis e veículos (52%), empréstimos pessoais (36%), compra de roupas e utilidades (33%) e educação (20%).
Apesar de estar conseguindo manter as contas em dia atualmente, Jeanderson dos Santos admite que já ficou inadimplente. Ele contraiu uma dívida de cerca de R$ 2 mil para comprar roupas e precisou fazer um financiamento para renegociar o valor.
Educação financeira como saída
Para Lage, a combinação de educação financeira com melhores alternativas de crédito pode aliviar o aperto no orçamento de muitos trabalhadores.
“É preciso buscar soluções de crédito de curto prazo para aliviar a dor momentânea, além de melhorar o poder de compra do brasileiro”, defende.
Santos concorda e afirma que está em busca de novos caminhos para ter mais estabilidade. Ele pretende trocar de emprego para ganhar mais e quer aprender a controlar melhor os gastos.
“A situação melhorou, mas ainda não estou tranquilo. Quero sair dessa zona de risco.”
