
O Brasil segue registrando um desempenho positivo no mercado de trabalho, mesmo diante da política monetária restritiva imposta pelo Banco Central, com juros altos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quinta-feira (31) pelo IBGE, revelou que a taxa de desocupação no trimestre encerrado em junho foi de 5,8%, a menor desde o início da série histórica em 2012. Esse número surpreende economistas, que esperavam um aumento na taxa de desemprego devido aos juros elevados.

Segundo os dados da pesquisa, o país também alcançou um recorde no número de pessoas ocupadas, com 102,3 milhões de trabalhadores, um aumento de 1,8 milhão em comparação com o primeiro trimestre de 2024. O número de trabalhadores com carteira assinada também subiu para 39 milhões, enquanto o rendimento médio mensal chegou a R$ 3.477.
O economista Gilberto Braga, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), destacou que, embora o cenário econômico atual seja desafiador, a taxa de desocupação abaixo de 6% foi uma "bela surpresa". Ele ressaltou que, normalmente, a alta dos juros causaria um impacto negativo sobre o mercado de trabalho, mas os dados mostram o contrário: um aumento nas contratações formais, uma redução na informalidade e um crescimento na remuneração média dos trabalhadores.
A taxa de informalidade, que representa a proporção de trabalhadores sem direitos trabalhistas na população ocupada, foi de 37,8% no segundo trimestre de 2024, a menor desde o segundo trimestre de 2020.
Desafios com a alta dos juros
Apesar dos dados positivos, a economia brasileira ainda enfrenta desafios devido aos juros altos. A Selic, atualmente em 15% ao ano, tem um efeito contracionista, desestimulando investimentos e aumentando o custo do crédito. Com a alta taxa de juros, empréstimos ficam mais caros, o que impacta tanto as famílias quanto as empresas.
O economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), classificou o cenário como “contraditório”. Enquanto a economia está em ritmo forte, o impacto dos juros sobre o mercado de trabalho ainda não é totalmente visível. Para ele, a desaceleração pode vir nos próximos meses, já que a atividade econômica tem mostrado sinais de arrefecimento.
Fatores que sustentam o emprego
Sandro Sacchet, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destacou dois fatores que ajudam a explicar a resistência do mercado de trabalho aos efeitos da alta da Selic. Um deles é a manutenção do valor do programa de transferência de renda, o Bolsa Família, em R$ 600, que ajudou a sustentar o consumo das famílias e, por consequência, o emprego. O outro fator é o aumento do número de trabalhadores informais, que já soma 25,7 milhões, o maior número registrado.
Com esses fatores, o mercado de trabalho se manteve resiliente, embora Sacchet acredite que, com o tempo, a taxa de desemprego será impactada pela política monetária mais apertada.
Expectativas para os próximos meses
Para o futuro próximo, a expectativa é de desaceleração na criação de empregos. O economista Rodolpho Tobler acredita que, nos próximos seis meses e em 2026, o ritmo de crescimento do mercado de trabalho pode perder força, já que a economia tende a esfriar. "A gente não espera uma grande demissão em massa, mas o emprego não continuará no mesmo ritmo forte como desde 2023 e no início de 2024", disse.
Já Sandro Sacchet acredita que a taxa de desemprego poderá sofrer uma leve elevação, mas que deve se manter abaixo dos níveis observados no ano passado até o fim de 2025, com a possibilidade de uma nova queda no último trimestre do ano, em função das contratações de Natal.
