
Após mais um adiamento da assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), integrantes do governo brasileiro passaram a defender que o bloco concentre esforços em outras negociações comerciais mais adiantadas ou com maior probabilidade de conclusão. A análise do acordo com a UE foi adiada pelo Conselho Europeu para janeiro, frustrando expectativas de assinatura durante a Cúpula do Mercosul em 20 de dezembro.
O novo atraso foi motivado pela formação de uma minoria de bloqueio, com destaque para Itália e França, que exigiram mais tempo para avaliar medidas adicionais de proteção ao agronegócio europeu. Diplomatas do Itamaraty afirmam que, assim como em 2019 (quando a justificativa foi proteção ambiental), o avanço depende exclusivamente da decisão europeia, e o governo brasileiro entende que o ônus político da postergação recai sobre os europeus.
Nos bastidores, embaixadores sugeriram que o Mercosul dedique sua força de trabalho negociadora a países e blocos com interesse claro em fechar acordos comerciais, deixando o pacto com a UE para o fim da fila de prioridades. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esse debate será apresentado na Cúpula de Líderes do Mercosul, com atualização sobre todas as iniciativas de acordos regionais e extrarregionais.
O acordo mais próximo de ser concluído é com os Emirados Árabes Unidos, sob coordenação do Paraguai, considerado “prioritário” desde a cúpula anterior em Buenos Aires. A embaixadora brasileira Gisela Padovan afirmou que o pacto está “muito próximo da conclusão”, mas indicou que faltam equipes suficientes para avançar todas as frentes simultaneamente.
Nesta sextafeira (19), a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou que o acordo será submetido à aprovação dos 27 países da UE em janeiro. Von der Leyen ressaltou que as salvaguardas adicionais pedidas pelos países europeus são necessárias para proteger agricultores e consumidores e afirmou que o pacto é importante “não apenas para as nossas duas regiões, mas para a economia global”.
Países do bloco europeu, incluindo Polônia, Áustria, Irlanda e Hungria, aderiram à posição de adiamento, considerando “tolerável” um atraso de cerca de três semanas em um tratado negociado por mais de duas décadas. O Brasil, no entanto, afirma que já negociou “tudo que era possível” no texto e que a conclusão depende agora apenas da UE.
Enquanto isso, o Mercosul tem avançado em outras frentes:
- EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio): assinado em 2025
- Panamá: acordo em vigor desde 2024
- Singapura: acordo em vigor desde 2023
Além disso, há possibilidades de atualização e ampliação de acordos já vigentes com Índia, Egito, Equador e Colômbia, incluindo mudanças em regras de origem e inclusão de mais produtos.
Estão também em diferentes estágios de negociação ou exploração:
Reino Unido e Malásia
- El Salvador e República Dominicana (América Latina e Caribe)
- Canadá (retomada após tarifaço dos EUA)
- Japão (com declaração conjunta em discussão)
- Países da ASEAN como Vietnã e Indonésia
- Coreia do Sul (diálogo planejado para início de 2026)
- China (proposta de “mecanismo de diálogo” em negociações por fases)
Internamente, há divergências no Mercosul sobre a condução das negociações. O Uruguai, com apoio da Argentina, defende um modelo que permita negociações externas “em velocidades distintas”, com maior liberdade bilateral para cada país. Em contrapartida, Brasil e Paraguai defendem a manutenção das negociações em bloco, em conformidade com as regras fundacionais do Mercosul, e buscam evitar “condicionantes políticas” nas tratativas — um ponto sensível nas negociações com a China, dada a relação entre Pequim e Taiwan.

