
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que terá uma reunião por videoconferência na próxima quarta-feira (13) com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos. O principal tema será a recente tarifa de 50% aplicada pelos EUA a produtos brasileiros, especialmente do agronegócio. A medida preocupa o governo por seus impactos diretos nas exportações e nas relações comerciais entre os dois países.

A reunião será uma tentativa de abrir espaço para o diálogo e reduzir as tensões geradas pela decisão americana. “Até a tarifa de 10% nós já considerávamos inadequada”, afirmou Haddad, ao reforçar que o governo brasileiro vê a nova taxação como desproporcional, ainda mais considerando que a América do Sul, como região, tem déficit comercial com os Estados Unidos.
Além da questão comercial, a conversa poderá tocar em outro ponto sensível: a possível aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A legislação dos EUA permite a aplicação de sanções a estrangeiros acusados de violar direitos humanos, e teria sido utilizada por grupos da extrema-direita norte-americana como forma de pressão política. Haddad destacou que esse tipo de interferência não deve influenciar a relação entre os países.
“A política tem que ser tratada na esfera da política”, disse o ministro. “Não faz o menor sentido estarmos vivendo esse tipo de situação. O Brasil e os Estados Unidos têm uma relação histórica de mais de dois séculos que não pode ser colocada em risco por disputas ideológicas.”
A sobretaxa de 50% incide principalmente sobre produtos agrícolas e é vista como uma barreira injusta, que ameaça diretamente a competitividade do agronegócio brasileiro. Haddad lembrou que mesmo os 10% anteriores já representavam um obstáculo para as exportações.
A depender do resultado da reunião com Bessent, o governo brasileiro não descarta um novo encontro, desta vez presencial, com autoridades norte-americanas. O objetivo seria manter um canal aberto de diálogo e buscar uma solução equilibrada que atenda aos interesses dos dois lados.
Críticas à atuação da extrema-direita e influência de Eduardo Bolsonaro - Haddad também criticou o papel da extrema-direita brasileira no agravamento da crise diplomática com os Estados Unidos. Segundo o ministro, setores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro estariam tentando politizar a relação bilateral, o que dificulta os esforços diplomáticos.
Ele citou uma entrevista recente do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), na qual o parlamentar teria ameaçado o Congresso Nacional e sugerido que representantes do agronegócio estariam alinhados a seus posicionamentos radicais.
“Hoje teve uma entrevista muito forte do Eduardo Bolsonaro ameaçando o Congresso e dizendo que o empresariado brasileiro do agro não está em contato com ele pedindo para diminuir as tensões”, relatou o ministro.
Haddad garantiu, no entanto, que nos bastidores há empresários do setor rural dialogando com o governo para tentar reverter a situação. Segundo ele, o envolvimento político de figuras ligadas ao bolsonarismo tem dificultado esse trabalho. “Essa mistura está atrapalhando, atrapalhando muito”, afirmou.
