
O governo brasileiro monitora com atenção os desdobramentos da reforma tarifária aprovada nesta semana pelo Congresso do México, que poderá afetar diretamente as exportações nacionais. A medida, que impõe tarifas de até 50% sobre produtos importados de países com os quais o México não mantém acordos de livre comércio, ainda aguarda sanção presidencial e deverá entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026.
Em nota conjunta divulgada nesta sexta-feira (12), os ministérios das Relações Exteriores (Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) destacaram a preocupação com os potenciais impactos sobre o comércio bilateral, especialmente em setores estratégicos. “O Brasil tem mantido contato com autoridades mexicanas para tratar dos possíveis efeitos das mudanças tarifárias”, informou o governo.
A reforma prevê a aplicação de tarifas entre 5% e 50% sobre cerca de 1.500 produtos distribuídos em 17 setores, entre eles automóveis, vestuário, siderurgia, plásticos, eletrodomésticos e autopeças. Além do Brasil, outras economias emergentes como China, Índia, Coreia do Sul, África do Sul e Rússia também serão atingidas.
Risco para exportações brasileiras
Embora o setor automotivo brasileiro possua um acordo setorial com o México, o governo teme que o novo modelo tarifário possa reduzir as vantagens existentes em outros segmentos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que até 15% das exportações brasileiras ao México estejam em risco com a nova legislação.
“Há preocupação de que a elevação tarifária possa reduzir as preferências bilaterais existentes em outros segmentos e afetar negativamente o comércio e os investimentos entre os dois países”, destaca a nota. O governo brasileiro afirma que seguirá engajado em um diálogo construtivo com o México para preservar a cooperação econômica e assegurar condições favoráveis aos investimentos bilaterais.
Impacto regional e geopolítico
A medida surge em um contexto de crescente pressão internacional. O México, que participa do acordo de livre comércio da América do Norte (USMCA) com Estados Unidos e Canadá, enfrenta cobranças do governo do presidente Donald Trump, que o acusa de facilitar a entrada de produtos chineses no mercado norte-americano.
O governo chinês reagiu com críticas à reforma, classificando-a como protecionista e prejudicial à economia global. Já o governo mexicano defende que a medida busca proteger a indústria nacional e promover uma concorrência mais justa. A presidente eleita, Claudia Sheinbaum, manifestou apoio à reforma e deve sancionar a lei nos próximos dias.
A tramitação da proposta foi marcada por forte controvérsia: aprovada em regime de urgência no Senado mexicano por 76 votos a favor, cinco contrários e 35 abstenções, a proposta enfrentou críticas de parlamentares que alertaram para possíveis impactos inflacionários e a ausência de debate aprofundado.
Relação bilateral em foco
Atualmente, o México é o sexto principal destino das exportações brasileiras, respondendo por cerca de 2,25% das vendas externas do país. De janeiro a novembro de 2025, foram aproximadamente US$ 7 milhões em produtos enviados ao mercado mexicano. O Brasil mantém com o país vizinho uma série de entendimentos setoriais, mas não um acordo comercial amplo.
Para o Itamaraty e o MDIC, decisões unilaterais com impacto comercial relevante devem ser avaliadas à luz dos compromissos de previsibilidade, segurança jurídica e integração produtiva, especialmente em um cenário global de alta competitividade e instabilidade geopolítica.

