
O novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, anunciou nesta quarta-feira (22) a criação de um grupo de trabalho voltado à regulamentação das relações entre plataformas digitais e seus trabalhadores. Em parceria com o Ministério do Trabalho, a iniciativa buscará ouvir diretamente motoristas e entregadores de aplicativos para propor medidas voltadas à remuneração mínima, proteção previdenciária e transparência dos algoritmos.

A proposta foi revelada durante entrevista à GloboNews e representa uma das primeiras ações de Boulos à frente da pasta, cuja principal função é estabelecer diálogo entre o governo federal e os diversos setores da sociedade civil.
“Recebi como demanda dos próprios trabalhadores de aplicativo a questão da transparência do algoritmo. Eles são guiados por essas ferramentas, mas não sabem como funcionam. É essencial abrir essa caixa-preta”, afirmou o ministro.
Boulos detalhou que o debate girará em torno de três pontos principais: estabelecer um valor mínimo para a remuneração, criar mecanismos de proteção social — como seguros e contribuições previdenciárias — e garantir maior clareza sobre os critérios e decisões dos algoritmos que organizam as rotinas de trabalho.
A regulamentação de plataformas como iFood, Uber, 99, entre outras, é um tema que já está sendo discutido dentro do Ministério do Trabalho, sob liderança de Luiz Marinho. A entrada da Secretaria-Geral busca ampliar esse diálogo e garantir maior envolvimento dos próprios trabalhadores.
Em tom autocrítico, Boulos reconheceu que a esquerda tem falhado ao tentar impor uma legislação trabalhista tradicional aos trabalhadores de aplicativos sem antes escutá-los. “Muitas vezes erramos ao apresentar uma visão pronta de legislação sem considerar a realidade desses profissionais. É hora de mudar isso no discurso e na prática”, avaliou.
Segundo o ministro, as propostas resultantes do grupo de trabalho poderão ser encaminhadas ao Congresso Nacional ainda no atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, ele destacou que o avanço dependerá da pressão popular.
“Se os movimentos sociais se engajarem como fizeram recentemente nas ruas contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, as chances aumentam muito”, afirmou.
Boulos reforçou que uma das missões dadas por Lula ao convidá-lo para o ministério foi aproximar o Executivo das pautas sociais. “O presidente me chamou para colocar o governo na rua, ouvir o povo, fazer a ponte entre o Planalto e a sociedade”, declarou.
Ele também comentou mobilizações recentes, como os protestos em todas as capitais contra pautas do Congresso consideradas retrocessos. “Ali estava presente a defesa de temas como o fim da escala 6x1 e a proposta de isenção do Imposto de Renda para 90% da população, financiada pela taxação dos super-ricos”, explicou.
Embora seu nome já seja cogitado pelo PSOL para disputar o Senado por São Paulo em 2026, Boulos deixou em aberto o futuro político. Ele afirmou que não aceitaria entrar agora no governo apenas para sair em abril — prazo limite para desincompatibilização de cargos — sem entregar resultados.
“O presidente me deu uma tarefa de longo prazo. Rodar o Brasil, escutar as pessoas. Não faria sentido entrar agora para sair em poucos meses. Quero cumprir essa missão com começo, meio e fim”, disse.
