
A decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master, na terça-feira (18), após a prisão do empresário Daniel Vorcaro, levou ao comando do processo um dos nomes mais experientes do setor: Eduardo Félix Bianchini. Com perfil discreto e quase invisível nas redes sociais, ele volta a ocupar o centro de uma operação de alta complexidade no sistema financeiro.
Bianchini trabalhou no Banco Central por 39 anos, entre 1973 e 2012. Ao se aposentar, passou a atuar justamente em liquidações e intervenções determinadas pela autarquia. Desde então, já foi nomeado para pelo menos oito processos — todos marcados por fraudes, rombos bilionários ou irregularidades em operações de câmbio.
Histórico de grandes crises sob sua gestão
O caso do Grupo Cruzeiro do Sul é um dos mais emblemáticos da trajetória de Bianchini. Em 2013, ele assumiu a liquidação após o BC identificar um rombo de R$ 3,1 bilhões, sustentado por mais de 300 mil empréstimos consignados falsos. O Ministério Público denunciou 17 pessoas e a Justiça classificou o episódio como “uma das maiores fraudes da história financeira brasileira”. A operação terminou em 2015 com o pedido de falência da instituição.
Em episódios posteriores, Bianchini assumiu processos envolvendo outras empresas problemáticas, como:
• Banco BVA (intervenção)
• Cruzeiro do Sul (liquidação)
• Pioneer Corretora (liquidação)
• Gradual Corretora (liquidação)
• S. Hayata Corretora
• Um Investimentos
• Decasa Financeira
• Uniletra Corretora
Segundo o BC, muitas dessas instituições realizavam operações irregulares, com indícios de lavagem de dinheiro e falhas graves nos controles internos.
No caso atual, Bianchini foi nomeado liquidante por meio da EFB, empresa da qual é único sócio-diretor, fundada em 2021. Embora pequena — com capital social de R$ 1 mil e endereço em um apartamento em Higienópolis, São Paulo —, a EFB foi a escolhida para conduzir a dissolução de todo o conglomerado Master, incluindo:
• Banco Master
• Banco Master de Investimento
• Banco Letsbank
• Master Corretora
• Banco Master Múltiplo (sob regime especial administrativo temporário – Raet)
A liquidação foi decretada horas após a prisão de Vorcaro pela Polícia Federal, investigado em operações que levantam suspeitas sobre práticas criminosas e movimentações financeiras irregulares.
Decisões conhecidas por minimizar danos ao sistema
Em sua trajetória como liquidante, Bianchini costuma adotar medidas para preservar ativos e mitigar o impacto sobre clientes e o Sistema Financeiro Nacional. No caso do Cruzeiro do Sul, por exemplo, determinou que as carteiras de crédito fossem administradas pelo Banco do Brasil, instituição com histórico de absorção desse tipo de operação. A maior parte dos ativos, porém, foi adquirida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que ficou com cerca de 70% das carteiras.
Situações similares ocorreram em outros processos, nos quais o BC identificou “inúmeras operações cambiais irregulares” e indícios evidentes de crimes financeiros, exigindo decisões rápidas e complexas dos interventores e liquidantes.
Com a dissolução do Master e de suas empresas, Bianchini deverá conduzir nos próximos anos um dos processos mais sensíveis atuais do setor financeiro. Sua atuação será determinante para reduzir impactos a clientes, preservar o patrimônio possível e proteger a estabilidade do sistema.
O caso envolve múltiplos braços operacionais e um conglomerado que, até a intervenção, operava em diversos segmentos financeiros — o que deve exigir meses de análise, auditorias, reorganização de ativos e decisões sobre eventuais transferências de carteiras.

