
Após mais de cinco meses de avaliação, o Banco Central decidiu rejeitar a proposta de aquisição de parte do banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). A operação, anunciada em março, previa a incorporação de ativos do Master por um valor que inicialmente superava R$ 48 bilhões. No entanto, a complexidade dos ativos e os riscos envolvidos acabaram pesando contra o avanço da transação.

A diretoria colegiada do BC seguiu o voto do diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias de Brito Gomes, e determinou a reprovação da operação. A decisão acontece em meio a pressões políticas e a investigações que envolvem diretamente a gestão e as práticas financeiras do banco Master.
Segundo o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, a proposta inicial foi revista durante o processo de avaliação. O volume de ativos a ser incorporado caiu pela metade, passando de R$ 48 bilhões para R$ 23,9 bilhões, após uma análise mais rigorosa dos ativos do Master.
A tentativa de aquisição já era vista por especialistas como uma possível forma de socorro financeiro, uma vez que o Master enfrentava crescentes desafios de liquidez. O modelo adotado pelo banco chamava atenção: captava recursos com promessas de alta rentabilidade por meio de CDBs, mas aplicava esses valores em ativos de baixa liquidez e alto risco, como precatórios e ações de empresas em dificuldade.
Com a decisão do Banco Central, aumenta o risco de que o Master sofra uma intervenção regulatória. Caso a autoridade financeira entenda que a situação compromete a solidez da instituição, poderá afastar os atuais gestores e nomear um interventor.
Investigações da CVM complicam cenário
Paralelamente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) conduz uma investigação sigilosa que aponta indícios de fraudes contábeis e má gestão. Um relatório da autarquia, revelado pelo Estadão, indica que o banco investiu R$ 2,1 bilhões em empresas sem condições financeiras para gerar retorno. Os aportes teriam inflado artificialmente o patrimônio do banco, inclusive beneficiando companhias ligadas à irmã de Daniel Vorcaro, dono do Master.
A CVM alerta que tais práticas podem comprometer a estrutura financeira do banco. Em resposta, o Master afirmou que os investimentos já foram quitados e que não há mais exposição.
Outro fator que agrava a situação foi a menção do nome do banco em uma operação da Polícia Federal, a Carbono Oculto. Embora o Master não tenha sido alvo direto da ação, a PF investiga dois fundos da gestora Reag — Hans 95 e Reag Growth 95 — por suspeitas de ocultação de patrimônio e relações com o crime organizado. Em 2024, esses fundos aportaram cerca de R$ 1,2 bilhão no Master, num momento crítico para sua liquidez.
O Master afirmou que a Reag é apenas uma entre várias prestadoras de serviços e que mantém relação comercial com ela na qualidade de cliente de seus fundos.
Nos bastidores de Brasília, a tentativa de fechar a operação mobilizou políticos tanto do centrão quanto da oposição. Houve pressões públicas contra o Banco Central, com ameaças de votação urgente de um projeto que permitiria ao Congresso destituir sua diretoria. A ofensiva não impediu a decisão técnica do órgão.
Com a reprovação da compra, o banco Master se vê em um ponto delicado. Além da fragilidade financeira, a instituição agora lida com danos à reputação e com a possibilidade concreta de intervenção oficial — o que afetaria não apenas seus investidores, mas também a confiança no sistema financeiro como um todo.
