
No meio do cerrado do Mato Grosso do Sul, a cidade de Inocência, com pouco mais de 7 mil habitantes, está prestes a ganhar um novo vizinho: uma fábrica de celulose gigantesca. Com investimento de US$ 4,6 bilhões, a chilena Arauco, uma das maiores fabricantes de celulose do mundo, vai construir ali sua primeira fábrica no Brasil. O projeto, chamado Sucuriú, será o maior já feito pela empresa e promete gerar milhares de empregos, além de transformar a economia local e fortalecer o nome do Brasil no mercado global de celulose.

O empreendimento chama atenção pelo tamanho do investimento e pela promessa de impacto social e econômico. Segundo o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, "este é um marco muito importante no processo de crescimento e fortalecimento do Estado", que se consolidará como um polo industrial de celulose. "Será uma unidade moderna, que vai gerar empregos, oportunidades, desenvolvimento social e econômico", afirmou.
No encontro de 10 de maio de 2024, em Campo Grande, Carlos Altimiras, CEO da Arauco no Brasil, junto ao governador Eduardo Riedel e o prefeito de Inocência, Toninho da Cofapi, recebeu a licença ambiental para instalação da fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul.
A fábrica começará a operar em 2027 e, até lá, muita coisa vai mudar na região. Mas o que é exatamente a celulose e por que esse projeto é tão significativo? Para quem não está acostumado com o tema, a celulose é o principal componente da madeira e serve para fabricar uma infinidade de produtos que vão desde o papel que usamos no dia a dia até tecidos, embalagens e plásticos biodegradáveis.
O Projeto Sucuriú será uma das maiores fábricas do mundo em sua categoria, com capacidade de produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano. Isso coloca a Arauco em uma posição privilegiada no mercado brasileiro, que já abriga grandes concorrentes como a Suzano, líder mundial na produção de celulose.
CEO da Arauco no Brasil, Carlos Altimiras.
Uma fábrica com alta tecnologia e sustentabilidade - O que diferencia a nova planta da Arauco não é apenas o tamanho. A empresa está prometendo fazer uma operação de última geração, com o uso de tecnologias chamadas de Indústria 4.0, que são sistemas automatizados e digitais que controlam cada detalhe da produção. Esse tipo de tecnologia permite reduzir os custos, aumentar a eficiência e, principalmente, minimizar o impacto ambiental.
Carlos Altimiras, Diretor-Presidente da Arauco no Brasil, descreveu o projeto como uma grande conquista para a empresa. "Essa é uma importante e decisiva etapa do Projeto Sucuriú. É o maior projeto de produção de celulose do mundo implantado em etapa única, e nossa escolha reflete a busca da Arauco por parceiros que compartilhem da mesma visão em relação à inovação e práticas sustentáveis", afirmou Altimiras.
Em 27 de junho de 2024, Arauco iniciou terraplanagem para fábrica de celulose em Inocência (MS).
Para fornecer a tecnologia necessária para essa operação, a Arauco firmou parceria com a Valmet, uma empresa finlandesa especialista em automação e serviços para indústrias como a de celulose. Segundo Thomas Hinnerskov, presidente da Valmet, "este investimento é um marco significativo para a indústria, e estamos orgulhosos de termos sido selecionados como parceiros da Arauco neste grande projeto". A fábrica será uma espécie de vitrine para as soluções mais avançadas de controle e automação que a Valmet oferece, prometendo eficiência e menor impacto ambiental.
Energia limpa e redução de resíduos - A fábrica da Arauco também terá um compromisso importante com a geração de energia limpa. Parte da madeira que sobra do processo de produção será queimada em uma caldeira especial para gerar eletricidade. Essa caldeira de biomassa, como é chamada, produzirá mais de 400 megawatts (MW) de energia, suficiente para abastecer uma cidade de 800 mil habitantes. Metade dessa energia será usada pela própria fábrica, e o restante será disponibilizado para o sistema elétrico nacional.
Além disso, haverá uma planta de gaseificação, que produzirá biocombustível a partir de resíduos do processo de fabricação da celulose. Isso tudo faz parte de um esforço da Arauco para minimizar os resíduos e evitar ao máximo o impacto ambiental, um compromisso que a empresa já adota em outros países. A Arauco é certificada como uma empresa "carbono neutro", ou seja, suas operações, em tese, não aumentam a emissão de gases do efeito estufa.
Utilizando resíduos de madeira, a planta de celulose no MS gerará eletricidade e biocombustíveis, reafirmando o compromisso com práticas ambientais responsáveis.
Essas práticas sustentáveis são especialmente importantes para a Arauco, que se apresenta como uma empresa preocupada com o futuro do planeta. "Nosso lema é ‘Renováveis por uma Vida Melhor’, e isso reflete nosso compromisso com a sustentabilidade", diz a empresa.
E o que muda para Inocência? A instalação de uma fábrica desse porte traz expectativas positivas para a pequena cidade de Inocência e seu entorno. O projeto Sucuriú promete criar 14 mil empregos diretos no pico da obra, o que representa um impacto enorme para a região. Além disso, quando a fábrica começar a operar, ela deve atrair novos investimentos e gerar mais arrecadação de impostos para o Estado.
Com o crescimento das operações, a cidade de Inocência provavelmente vai mudar. Empresas ligadas à construção civil, transporte e serviços devem se instalar por lá, atraídas pela nova demanda. Ao mesmo tempo, o cultivo de eucalipto, matéria-prima usada na fabricação da celulose, vai se expandir ainda mais. O Mato Grosso do Sul, aliás, tem um clima perfeito para o cultivo dessa árvore, que cresce mais rápido no Brasil do que no Chile, onde a Arauco já tem operações consolidadas.
O Projeto “Sucuriú” terá capacidade de 2,5 milhões de toneladas por ano de celulose de eucalipto e deve entrar em operação no primeiro trimestre de 2028.
Mas com o crescimento também vêm os desafios. O eucalipto é uma árvore que consome muita água e pode impactar o solo da região. Por isso, ambientalistas costumam criticar a monocultura de eucalipto, argumentando que ela pode trazer danos ao meio ambiente. A Arauco, no entanto, garante que todas as suas operações seguem rigorosas práticas de manejo florestal sustentável e são certificadas por órgãos internacionais, como o FSC (Forest Stewardship Council).
Para os moradores de Inocência, a chegada da fábrica representa a esperança de dias melhores, com mais oportunidades de trabalho e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o desafio será garantir que esses benefícios cheguem de forma equilibrada, sem prejudicar o meio ambiente ou criar problemas de longo prazo.
Uma disputa de gigantes - A nova fábrica da Arauco também representa um movimento importante no cenário internacional da celulose. A empresa entra com força total em um mercado dominado por gigantes como a Suzano, que também tem uma fábrica no Mato Grosso do Sul, em Ribas do Rio Pardo, a cerca de 250 quilômetros de Inocência. A unidade da Suzano, que começou a operar recentemente, tem capacidade para produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose por ano.
Com o Projeto Sucuriú, a Arauco vai superar essa marca, chegando a 3,5 milhões de toneladas anuais. Isso coloca a empresa em uma posição de destaque no Brasil, o que é estratégico, considerando que o país já é o maior exportador de celulose do mundo.
Projeto Sucuriú estará localizado na margem esquerda do Rio Sucuriú
Para a Arauco, essa fábrica no Brasil é um passo decisivo. A empresa, que já opera em mais de 75 países, vê na expansão para o mercado brasileiro uma oportunidade de consolidar sua presença global e se fortalecer como líder no setor. A competição com a Suzano promete ser acirrada, mas quem deve sair ganhando, pelo menos por enquanto, é o Estado do Mato Grosso do Sul, que atraiu para si grandes investimentos e se consolidou como um polo estratégico da indústria florestal.
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