
Em 2024, após enfrentar um hematoma subdural e passar por duas cirurgias, o ator Tony Ramos, de 76 anos, viveu um momento de lucidez e profunda reflexão ainda na UTI. Ao sentir o toque da esposa, Lidiane Barbosa, um verso de Fernando Pessoa veio imediatamente à sua mente:

“Eu não possuo o meu corpo. Como posso eu possuir com ele?”
O ator contou no videocast Conversa vai, conversa vem que repetia o trecho quase como em cena de teatro, enquanto tentava se reconectar ao mundo. Para ele, o poema serviu como um norte emocional em meio à incerteza.

Origem do verso
O trecho citado faz parte do Livro do Desassossego, obra escrita por Fernando Pessoa sob o semi-heterônimo Bernardo Soares, um ajudante de guarda-livros em Lisboa. Publicada postumamente em 1982, a obra reúne mais de 500 fragmentos em prosa poética, sendo considerada uma “autobiografia sem fatos” e um marco da ficção moderna portuguesa.
No livro, Pessoa reflete sobre temas como identidade, posse e a incapacidade de controlar completamente o próprio corpo ou espírito. A força do texto está na delicadeza com que traduz sentimentos universais de incompletude e fragilidade — sensações que, segundo Tony Ramos, se intensificaram naquele momento de vulnerabilidade física e emocional.
Leia o poema completo:

Fernando Pessoa - trecho do ‘Livro do Desassossego’
