
O Spotify anunciou nesta quarta-feira (24) uma série de mudanças para regular o uso de inteligência artificial (IA) em músicas disponibilizadas na plataforma. A medida busca enfrentar abusos como a criação em massa de faixas com baixa qualidade apenas para gerar royalties, além de combater a personificação de artistas por meio de clones de voz.

As novas regras foram apresentadas durante um briefing global à imprensa por Charlie Hellman, vice-presidente de produto musical, e Sam Duboff, chefe de política regulatória do Spotify. A partir de agora, a plataforma irá:
Rotular músicas geradas por IA nos créditos das faixas;
Aplicar filtros contra “músicas spam” criadas por robôs para manipular o sistema;
Remover deepfakes e vozes clonadas de artistas sem autorização.
“A tecnologia sempre esteve presente na evolução da música. Já passamos por momentos como a chegada do autotune e das DAWs (estações de trabalho de áudio digital). Mas sempre cabia ao artista decidir como usar essas ferramentas. Queremos manter isso assim”, disse Hellman.
Uso ético da IA é permitido
O Spotify esclareceu que não penalizará artistas que usarem a IA de forma criativa e transparente, como parte do processo de produção. A plataforma reconhece que essas ferramentas podem ampliar a liberdade criativa dos músicos, desde que usadas com responsabilidade.
“Nosso papel é garantir que o uso da IA continue nas mãos dos artistas e não daqueles que tentam burlar o sistema”, afirmou Duboff. A política já está em vigor desde quarta-feira (24), com a filtragem de spam sendo implementada de forma gradual.
Entenda as novas medidas
Créditos obrigatórios de IA:
Se uma música contar com vocais, instrumentos ou pós-produção gerados por IA, essa informação deverá constar nos créditos da faixa. O Spotify adotou o padrão DDEX, usado por mais de 15 selos e distribuidores musicais.
Filtro contra músicas spam:
O Spotify vai bloquear faixas criadas em massa com uso de IA e que utilizem técnicas de SEO para manipular buscas. Essas músicas não serão recomendadas nem monetizadas.
Bloqueio de personificações:
A plataforma também vai impedir que vozes de artistas sejam replicadas sem autorização. Clones de voz, deepfakes e conteúdos que violem direitos autorais serão removidos com auxílio de sistemas de triagem automática.
Casos que levantaram o debate
Dois casos recentes ajudaram a acirrar a discussão em torno do uso da IA na música. O primeiro envolve a banda fictícia The Velvet Sundown, que ganhou popularidade com a faixa Dust in the Wind. A banda, criada por inteligência artificial, tem como principal público a cidade de São Paulo, com cerca de 15 mil ouvintes mensais.
Apesar de ser uma criação inteiramente feita por IA, o grupo declarou essa informação na bio do Spotify, o que, segundo a empresa, pode evitar punições. "Ser transparente é o fator decisivo", disse Sam Duboff.
Outro caso é o da “cantora” Tocanna, um avatar inspirado em um tucano, que viralizou no TikTok com a música São Paulo, uma paródia da faixa Empire State of Mind, de Jay-Z e Alicia Keys. A versão em espanhol chamou atenção até do rapper americano, que solicitou a retirada da faixa das plataformas. Até agora, a página de Tocanna permanece ativa no Spotify.
Spotify nega rumores de autoprodução com IA
Durante a apresentação, os executivos do Spotify também desmentiram boatos de que a própria plataforma teria criado músicas com inteligência artificial para preencher playlists e evitar pagamento de royalties. "Não criamos músicas usando IA", garantiu Charlie Hellman.
