
Quarenta anos depois de estrear na versão brasileira de A Chorus Line, Raul Gazolla volta ao musical em uma nova montagem que reúne diferentes gerações no palco. Desta vez, ele interpreta Zach, o coreógrafo que comanda a audição fictícia que dá base à história. A nova versão é dirigida por Bárbara Guerra, que também assina a coreografia.

O desafio da nova produção foi atualizar o espetáculo ambientado no Bronx, em Nova York, nos anos 1970. Em vez de adaptar o enredo para o Brasil, a diretora optou por manter o contexto original em um espaço neutro. “A vida é cíclica. A história continua atual”, afirma Bárbara.
O elenco conta com 24 artistas de diferentes idades, entre jovens de 20 e veteranos com mais de 40 anos. Para Bárbara, o musical fala sobre superação e a força de seguir em frente, mesmo com as dificuldades da vida. “Acreditar em sonhos pode parecer piegas, mas é o que nos move”, resume.
Raul Gazolla, hoje com 70 anos, esteve na primeira montagem brasileira, realizada em 1983. Na época, o texto foi adaptado por Millôr Fernandes, e a produção foi comandada por Walter Clark. O espetáculo revelou nomes que se tornariam ícones da televisão e do teatro, como Claudia Raia, Totia Meireles e Guilherme Leme.
“O Gugu [apelido de Millôr Fernandes] queria que a gente falasse ‘obrigada’ com o mesmo ritmo que os gringos diziam ‘thank you’. Era impossível, não encaixava”, relembra Gazolla, entre risos.
Sobre voltar ao musical após quatro décadas, o ator brinca: “Fiz uma infiltração no quadril. Muito uso, né? Faço muito esporte.” Apesar da resistência em dançar, a diretora insistiu na presença de Gazolla no elenco. “Ele é a âncora dessa produção”, destaca Bárbara.
Para Gazolla, a nova montagem também provoca reflexões sobre o valor do trabalho artístico. “Naquela época, a gente queria trabalhar. Hoje, muita gente só quer ser famosa. Mas para quê? O que você tem para oferecer para a sociedade?”, questiona.
Ele também destaca como os dilemas dos personagens seguem atuais. “Cada um ali tem seus problemas, seus medos. Isso vale para qualquer profissão. Todo mundo enfrenta alguma batalha.”
A Chorus Line estreou em 1975 em um teatro off-Broadway. Poucos meses depois, chegou à Broadway, onde ficou em cartaz por 15 anos, com mais de seis mil apresentações. O espetáculo ganhou o Prêmio Pulitzer de Teatro em 1976.
Em 1985, o musical foi adaptado para o cinema, com direção de Richard Attenborough e atuação de Michael Douglas. A versão recebeu críticas mornas, principalmente após comparações com outros sucessos do gênero, como Hair.
No Brasil, A Chorus Line foi apresentado pela primeira vez em 1983, com direção do coreógrafo americano Roy Smith. A produção foi um marco no teatro musical brasileiro, revelando talentos e marcando uma geração. Agora, com nova direção e elenco renovado, o espetáculo volta aos palcos mantendo a essência original.
