
O poeta, tradutor e jornalista Leonardo Fróes, um dos nomes centrais da poesia brasileira contemporânea, morreu aos 84 anos. A informação foi confirmada pela Editora 34, que publicou grande parte de sua obra nos últimos anos. Fróes estava internado havia cerca de um mês em decorrência de complicações causadas por uma úlcera.
Natural de Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro, Leonardo Fróes teve uma trajetória literária marcada pela sofisticação e por um vínculo profundo com a natureza. Desde os anos 1970, vivia em um sítio em Petrópolis, na região serrana fluminense, onde cultivava a terra e mantinha uma rotina de escrita e tradução.
Poesia do campo e da contemplação - Embora contemporâneo da Geração Beat e da poesia marginal que marcaram o Brasil nos anos 1970 e 1980, Fróes nunca se encaixou totalmente nesses rótulos. Preferia se definir como parte da linhagem dos “poetas do campo”, voltados à contemplação, ao cotidiano e à vida em comunhão com a natureza.
Entre seus principais livros estão Língua Franca (1968), A Vida em Comum (1969) e Argumentos Invisíveis (1996), obra que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Poesia naquele ano. Em 2021, sua produção poética foi reunida em um volume de 424 páginas pela Editora 34, consolidando seu legado literário.
Tradutor de clássicos e voz erudita - Além de poeta, Leonardo Fróes teve papel fundamental na tradução de obras essenciais da literatura mundial para o português. Era fluente em inglês, francês e alemão, e foi responsável pelas primeiras traduções brasileiras de Virginia Woolf. Sua contribuição também inclui traduções de Goethe, William Faulkner e Jonathan Swift, autores que ajudou a tornar mais acessíveis ao público brasileiro. Sua erudição e domínio das línguas o tornaram um dos tradutores mais respeitados do país, com trabalhos que se destacam tanto pela precisão quanto pela sensibilidade poética.
Antes de se dedicar integralmente à literatura, Fróes atuou como jornalista em veículos de grande circulação, como o Jornal do Brasil e o Jornal da Tarde. Foi um dos precursores do jornalismo ambiental no país, assinando a coluna “A Arte de Plantar”, onde abordava temas relacionados ao cultivo, ecologia e vida rural — temas que também permeavam sua produção poética.
Em 2021, Leonardo Fróes foi um dos destaques da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde dividiu espaço com nomes como Alice Walker, Margareth Atwood, David Diop, Conceição Evaristo e Ailton Krenak. Sua participação, mesmo discreta, foi marcada por leituras e reflexões que evidenciaram a força atemporal de sua poesia.
Legado discreto, mas essencial - Figura reclusa, Fróes preferia o silêncio e o tempo lento do campo à agitação dos centros urbanos e dos grandes eventos literários. Ainda assim, sua influência sobre novas gerações de poetas e tradutores é inegável. Com sua morte, a literatura brasileira perde uma de suas vozes mais singulares — um homem que escolheu viver entre livros e plantas, e que fez da palavra um elo entre o mundo e a natureza.

