
O jornalista e colunista José Roberto Guzzo, referência do jornalismo brasileiro, morreu na manhã deste sábado (2), aos 82 anos, em São Paulo. A causa da morte foi um infarto, conforme informou a família. Guzzo sofria de problemas crônicos cardíacos, pulmonares e renais.

Conhecido pela precisão cirúrgica de seus textos, Guzzo atuava como colunista do jornal O Estado de S. Paulo desde 2021, e foi um dos fundadores da revista Oeste. Seu legado, porém, se consolidou nas décadas de 1970 e 1980, quando esteve à frente da revista Veja, conduzindo a publicação ao auge de sua relevância jornalística e editorial.
“Estou muito triste porque hoje morreu, senão o maior e melhor jornalista de todos os tempos, um dos maiores e melhores jornalistas que o Brasil já teve”, afirmou Roberto Guzzo, filho do jornalista, em nota.
Natural de São Paulo, Guzzo começou sua carreira em 1961, no jornal Última Hora. Cinco anos depois, foi para o Jornal da Tarde, onde rapidamente se destacou e passou a integrar o time do Grupo Estado como correspondente internacional em Paris.
Mas foi na Editora Abril que sua trajetória ganhou contornos definitivos. Em 1968, integrou a equipe fundadora da revista Veja, assumindo a editoria de Internacional. Logo em seguida, se tornou correspondente em Nova York e cobriu eventos históricos, como a guerra do Vietnã e a visita do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Guzzo foi o único jornalista brasileiro presente no emblemático encontro entre Nixon e o líder chinês Mao Tsé-tung.
Em 1976, aos 32 anos, assumiu a direção da Veja, onde permaneceria até 1991. Sob sua liderança, a revista passou de uma circulação modesta de 175 mil exemplares para quase 1 milhão de exemplares semanais, tornando-se a quarta maior revista de informação do mundo, atrás apenas da americana Time, da Newsweek e da alemã Der Spiegel.
Com texto refinado, apuro editorial e liderança reconhecida, Guzzo ganhou o apelido de “mão peluda”, em referência à sua habilidade de transformar matérias monótonas em leituras cativantes com pequenas intervenções. Sua marca era o equilíbrio entre sofisticação e clareza — algo que moldou o estilo da redação da Veja por anos.
Paralelamente à Veja, Guzzo acumulou, a partir de 1988, o comando da revista Exame. Após deixar a Veja, passou a se dedicar integralmente à publicação de negócios, primeiro como diretor editorial e depois como publisher. Em 11 anos à frente da Exame, elevou a revista ao posto de mais rentável da Editora Abril, em termos proporcionais.
Sempre atento aos rumos da imprensa, Guzzo passou a colaborar com outros veículos e se aproximou de temas de opinião e análise política nos últimos anos. Em 2021, passou a assinar colunas no Estadão, onde manteve um olhar crítico sobre a política e a cultura brasileira contemporânea.
Ao longo de mais de seis décadas de atividade jornalística, Guzzo construiu uma trajetória marcada por rigor, independência e excelência editorial. Jornalistas que trabalharam ao seu lado relatam um profissional exigente, mas justo — capaz de formar gerações e transformar redações inteiras.
Mesmo fora das redações de grandes revistas, permaneceu ativo até o fim da vida, contribuindo com opiniões firmes e, muitas vezes, controversas, sem jamais abdicar da palavra como ferramenta de expressão democrática.
Entre suas principais coberturas internacionais, destacam-se:
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A guerra do Vietnã;
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A visita de Nixon à China, em 1972;
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A atuação como correspondente em Paris e Nova York nos anos 1960 e 70;
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A reformulação da abordagem de economia e política internacional no jornalismo brasileiro.
Durante sua trajetória, Guzzo influenciou profundamente o modelo de jornalismo semanal no Brasil, moldando o estilo analítico, direto e provocador que marcou a era de ouro das grandes revistas de informação.
Mesmo divergente em suas opiniões públicas mais recentes, manteve o respeito entre colegas de profissão pela capacidade de articulação, visão crítica e senso de oportunidade editorial.
José Roberto Guzzo deixa filhos, netos e uma geração de jornalistas formados sob sua supervisão. Sua última coluna publicada pelo Estadão circulou na semana passada, marcada por seu estilo direto e observações políticas contundentes.
A família ainda não divulgou informações sobre o velório e enterro.
