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MEMÓRIA E RESISTÊNCIA

Neta inquieta dá voz à tataravó escravizada em monólogo no centro de Campo Grande

Na busca por uma tataravó escravizada, a atriz Júnia Pereira transforma silêncio familiar em arte e identidade

22 agosto 2025 - 16h56Da Redação
Júnia Pereira apresenta (Im)possível Memória, solo que reconstitui a memória de uma ancestral escravizada.
Júnia Pereira apresenta "(Im)possível Memória", solo que reconstitui a memória de uma ancestral escravizada. - Foto: Divulgação
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Na noite deste próximo domingo (24), o palco do Teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande, recebe uma presença invisível. Ou quase isso. Trata-se de (Im)possível Memória, monólogo criado e interpretado por Júnia Pereira, que sobe à cena às 20h com entrada gratuita. O espetáculo encerra a 1ª Mostra de Solos Teatrais e traz à tona uma história que, até pouco tempo atrás, era apenas um sussurro no passado da artista.

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Júnia cresceu com uma sensação: algo em sua história familiar estava ausente. Os sobrenomes europeus eram mencionados com frequência. Mas os traços, os silêncios e os gestos sugeriam outras origens. Durante um processo de pesquisa, ela descobriu que teve uma tataravó escravizada, possivelmente no antigo arraial de Boa Morte, hoje território quilombola em Minas Gerais. A partir desse fragmento, construiu uma dramaturgia que mistura relato, ativismo, história e ficção — e que reconstitui, no corpo da atriz, a memória de uma mulher esquecida.

Foto: Divulgação

“Essa busca é uma tentativa de reconfigurar nossa identidade”, diz Júnia. Para ela, dar nome e corpo a uma ancestral é também dar voz a muitas outras histórias soterradas pelo tempo e pelo racismo estrutural. “Falar da escravidão como algo distante é um erro. Ela está nas nossas raízes.”

A direção é de Gina Tocchetto, que acompanhou o processo desde os primeiros rascunhos. As duas se conheceram no curso de Artes Cênicas da UFGD e já compartilhavam o desejo de criar algo juntas. “A peça nasceu de uma pergunta difícil: como representar alguém de quem pouco se sabe?”, conta Gina. Foram seis meses de ensaios, nos quais Júnia transitou entre quatro camadas de personagem: a atriz, a investigadora, a ancestral e a ativista.

O resultado é um solo que não pretende dar respostas definitivas, mas sim provocar perguntas. O teatro, aqui, funciona como ritual — não para encontrar verdades absolutas, mas para reacender memórias silenciadas.

A peça integra a Mostra idealizada por Karine Araújo e Nill Amaral, da Cia Ofit, e dialoga com o tema central do evento: a potência criativa de artistas que, sozinhas em cena, convidam o público a enxergar o invisível.

SERVIÇO
Espetáculo: (Im)possível Memória
Data: Domingo, 24 de agosto
Horário: 20 horas
Local: Teatro Aracy Balabanian, Rua 26 de Agosto, 453, Centro, Campo Grande
Entrada: Gratuita, com distribuição de ingressos 30 minutos antes do espetáculo
Classificação indicativa: 12 anos

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