
A cineasta, roteirista e diretora Joyce Prado, uma das principais vozes do audiovisual negro no Brasil, morreu aos 38 anos. A notícia foi confirmada na tarde desta quinta-feira (11) pela Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), da qual ela foi cofundadora. O centro cultural Aparelha Luzia também havia divulgado a informação mais cedo nas redes sociais.
Com uma trajetória marcada pela criação de narrativas voltadas à valorização da ancestralidade e da resistência negra, Joyce foi responsável por obras premiadas no cinema e na música. Entre seus trabalhos mais reconhecidos está o documentário Chico Rei Entre Nós (2020), que venceu prêmios no Festival Internacional de Cinema de São Paulo.
No filme, ela resgata a história real de um rei congolês escravizado no Brasil que, durante o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, conseguiu libertar a si e a outros africanos escravizados. O documentário propõe uma reflexão contemporânea sobre os efeitos da escravidão, a exclusão social e as possibilidades de reparação histórica.
Joyce Prado deixa um legado significativo na luta por mais representatividade e equidade no audiovisual brasileiro. Além da APAN, ela também foi cofundadora da produtora Oxalá Produções, dedicada à realização de conteúdos protagonizados por artistas e profissionais negros.
Em nota, a APAN exaltou sua trajetória e compromisso com a coletividade:
“Joyce é uma força imensa que seguirá iluminando nossos caminhos. Ela segue sendo uma das principais referências para o audiovisual brasileiro e para o que somos e defendemos enquanto profissionais do audiovisual negro. Sua sagacidade, doçura, força, acolhimento e senso de justiça permanecem por aqui sendo uma bússola.”
No cinema, ela também dirigiu o longa documental Flores de Baobá (2016), premiado pelo público no Black Star Film Festival. Em séries, assinou a direção de The Beat Diaspora (YouTube Originals) e Ancestralidades, do canal Arte 1, sempre com foco nas raízes afro-brasileiras, cultura negra e identidade.
Outra marca do trabalho de Joyce foi sua parceria artística com a cantora Luedji Luna, para quem dirigiu clipes e projetos audiovisuais que se tornaram referências na estética musical brasileira. Entre os destaques estão o documentário Memórias de um Corpo no Mundo, sobre uma das turnês da cantora, e o curta visual do álbum Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água (2020).
Pelas colaborações com Luedji, a diretora foi premiada pelo Music Video Festival Awards (2020) e pelo Women’s Music Event (em 2018, 2021 e 2024).
Nas redes sociais, Luedji fez uma homenagem emocionante à amiga:
“Você emprestou a poesia do seu olhar pro meu trabalho em todos os meus discos, menos nesse último, que eu fiz quase inteiro pra ti. Você foi a amiga que eu sempre quis ter na infância e nunca tive. Com você eu soube o que era ter pertença, e o que é não ser só. Te amo, te amo. Pra sempre!”

