
O evento mundial Bloomsday, que começou a ser realizado em Dublin, capital da Irlanda, como uma homenagem ao escritor irlandês James Joyce e seu livro imortal “Ulysses”, publicado em 1922 e considerado um dos romances mais importantes da literatura modernista, chegou a Campo Grande (MS) no ano passado e, na sua 2ª edição, promovida na noite de ontem (15/06), reuniu mais de 100 pessoas no Irlandês Pub, estabelecimento localizado na Avenida Afonso Pena, 1,650.

Segundo Herbert Covre Lino Simão, que organiza o evento em parceria com Carlos Fabrizio Campanile Braga, relatos de comemoração da data apareceram primeiro em uma carta do próprio James Joyce datada de 1924, ou seja, apenas dois anos depois do lançamento do livro. “Na noite de ontem, com o apoio do Irlandês Pub, a Bloomsday-CG (Sociedade Literária James Joyce de Campo Grande) promoveu uma intenção programação, que incluíram cinco atos: abertura com o tema ‘Como James Joyce pode mudar sua vida, o caso de Paul Auster; Stephen Dedalus & Hamlet, James Joyce & William Shakespare; O Finn’s Hotel de James Joyce; Molly Bloom, Joyceanamente; e Músicas Irlandesas”, enumerou.
Ele acrescenta que o Bloomsday atualmente a comemoração é realizada em várias partes do mundo, incluindo Paris, Trieste e Zurique, cidades em que o escritor morou, além de Londres, Roma, Oslo, Estocolmo e Nova York. “No Brasil, a celebração do Bloomsday começou na cidade de São Paulo, há mais 30 anos, por iniciativa do tradutor e poeta Haroldo de Campos e da professora Munira Mutran, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Hoje, o evento também chegou a Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Natal, entre outras cidades, e, pela segunda vez, a Campo Grande”, pontuou.
Herbert Covre Lino Simão reforça que o evento foi realizado no Irlandês Pub em virtude de o local ser a embaixada informal da cultura irlandesa em Mato Grosso do Sul. “A programação com sessões de leitura em português, inglês e francês da obra de James Joyce, além de projeções de vídeos e imagens, terminou com músicas irlandesas tocadas pela banda Dublin Rovers. No próximo ano, vamos tentar fazer no dia 16 de junho e esperamos contar com a participação de um representante da Embaixada da Irlanda no Brasil”, revelou.
Quem foi James Joyce
Nascido em 2 de fevereiro de 1882, apenas uma semana depois de sua contemporânea Virginia Woolf, James Augustine Aloysius Joyce foi um romancista, contista e poeta da Irlanda que viveu boa parte de sua vida expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do Século 20 e suas obras mais conhecidas são o volume de contos “Dublinenses”, de (1914), e os romances “Retrato do Artista Quando Jovem”, de 1916, “Ulysses”, de 1922, e “Finnegans Wake”, de 1939, o que se poderia considerar um "cânone joyceano".
Ele também participou dos primórdios do modernismo poético em língua inglesa, sendo considerado por Ezra Pound um dos mais eminentes poetas do imagismo. Embora Joyce tenha vivido fora de sua ilha irlandesa natal pela maior parte da vida adulta, sua identidade irlandesa foi essencial para sua obra e fornecem-lhe toda a ambientação e muito da temática de sua produção literária. Seu universo ficcional enraíza-se fortemente em Dublin e reflete sua vida familiar e eventos, amizades e inimizades dos tempos de escola e faculdade. Desta forma, ele é ao mesmo tempo um dos mais cosmopolitas e um dos mais particularistas dos autores modernistas de língua inglesa.
O ano de 1922 foi fundamental na história do modernismo na literatura de língua inglesa, com a publicação tanto de “Ulysses”, quanto “The Waste Land”, de T. S. Eliot. Em seu romance, James Joyce utiliza-se do fluxo de consciência, da paródia, de piadas e virtualmente todas as demais técnicas literárias para apresentar seus personagens. A ação do livro, que se desenrola em um único dia, 16 de junho de 1904, situa os personagens e incidentes da “Odisseia”, de Homero, na Dublin moderna e representa Odisseu (Ulisses), Penélope e Telêmaco em Leopold Bloom, sua esposa Molly Bloom e Stephen Dedalus, cujos caracteres contrastam com seus altivos modelos, parodiando-os.
O livro explora diversas áreas da vida dublinense, estendendo-se sobre sua degradação e monotonia. Ainda assim, o livro também é um estudo afeiçoadamente detalhado sobre a cidade, e Joyce afirmava que se Dublin fosse destruída por alguma catástrofe, poderia ser reconstruída tijolo por tijolo, usando como modelo sua obra. Para atingir este nível de precisão, Joyce usou uma edição de 1904 do Thom's Directory - uma obra que listava os proprietários e/ou possuidores de cada imóvel residencial ou comercial da cidade. Ele também soterrava amigos que ainda viviam na cidade com pedidos de informação e esclarecimentos.
O livro consiste em dezoito capítulos, cada um cobrindo aproximadamente uma hora do dia, começando por volta das 8 horas e terminando em algum ponto após às 2 horas do dia seguinte. Cada um dos dezoito capítulos emprega seu próprio estilo literário. Cada um deles também se refere a um episódio específico da Odisseia de Homero e tem associado a si uma cor, arte ou ciência e órgão do corpo humano. Esta combinação de escrita caleidoscópica com uma estrutura extremamente formal e esquemática é uma das maiores contribuições do livro para o desenvolvimento da literatura modernista do Século 20.
