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CULTURA JAPONESA

Feira Central de Campo Grande é vitrine viva do legado japonês no comércio popular

Espaço reúne tradição, empreendedorismo e gerações de histórias marcadas pela presença nipo-brasileira

22 junho 2025 - 11h35Redação
Kaori Confecções é uma empresa de moda autoral de kimonos de Campo Grande
Kaori Confecções é uma empresa de moda autoral de kimonos de Campo Grande - (Foto: Arquivo Pessoal)

A Feira Central de Campo Grande, conhecida carinhosamente como “Feirona”, é mais do que um ponto turístico ou centro de compras: é um verdadeiro símbolo da cultura nipo-brasileira em Mato Grosso do Sul. Com mais de 100 anos de existência, o local carrega as marcas da presença japonesa, principalmente nos pequenos negócios que resistem ao tempo com tradição, dedicação e reinvenção.

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A ligação da cultura japonesa com Campo Grande começou ainda no início do século passado. Em 1908, o navio Kasato Maru trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. No Estado, muitos vieram atraídos pela construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e, a partir daí, começaram a construir suas vidas por meio de pequenos comércios — especialmente na Feira Central, onde hoje mais de 15 negócios pertencem a famílias de origem japonesa.

Onigiri é um lanche popular do Japão recheado com diversos ingredientes (Foto: Arquivo Pessoal)Onigiri é um lanche popular do Japão recheado com diversos ingredientes (Foto: Arquivo Pessoal)

Doces, sushi e tradição familiar - Entre essas histórias, está a da empreendedora Suelly Shinzato, neta de imigrantes. No início, ela revendia produtos típicos do Japão, mas com o tempo passou a preparar suas próprias receitas, como manju, moti de Okinawa e dorayaki — pratos herdados da família. “Começamos a levar nossos produtos em festivais da cultura japonesa e eventos que tomaram o gosto do campo-grandense”, conta.

Suelly assumiu a barraca “Shinzato Doces e Sushis Orientais” em 2021, dando continuidade ao trabalho dos sogros, que também já vendiam comida japonesa na Feira Central desde os 14 anos. “O desafio hoje é manter a receita original e passar para os filhos e netos. Assim como meus avós, meu pai já dizia: não esqueça das nossas origens”, afirma.

A barraca, como outras presentes no local, reforça o caráter familiar e afetivo da feira. O ambiente acolhedor, os sabores tradicionais e o contato direto com os clientes transformam a Feirona em ponto de encontro e memória afetiva dos campo-grandenses.

Cultura japonesa no dia a dia - A cultura japonesa vai além da culinária na capital sul-mato-grossense. Um exemplo é a Kaori Kimonos, marca criada por Priscila Kaori, que trouxe para a moda elementos da tradição herdada da avó, Naishi Kawa. A marca é conhecida por seus kimonos com estampas tropicais inspiradas na fauna e flora do Pantanal.

“Eu gosto de trazer para as coleções essas duas culturas, Brasil e Japão. As clientes ficam encantadas quando veem os kimonos tradicionais com mangas longas. A gente tem até uma peça que é o maior sucesso”, conta Priscila, que participou de eventos como o Pantanal Fashion Week, com apoio do Sebrae/MS.

Durante a pandemia, Priscila redescobriu os kimonos como uma alternativa confortável e elegante, adaptando os tecidos ao clima quente da região. A fusão entre tradição japonesa e identidade regional faz da sua marca um exemplo claro de como é possível inovar mantendo as raízes vivas.

Suely Shinzato herdou dos sogros uma barraca na Feira Central e hoje, a gerencia com sua família (Foto: Arquivo Pessoal)Suely Shinzato herdou dos sogros uma barraca na Feira Central e hoje, a gerencia com sua família (Foto: Arquivo Pessoal)

Cultura pop e empreendedorismo - A influência japonesa também se espalha pela cultura pop em Campo Grande. Flavio Nakazato, fã de animes e tokusatsus, é diretor executivo do Parada Nerd — o maior evento de cultura pop do estado, que já reuniu mais de 6 mil pessoas em uma única edição.

Ele acredita que o Japão é um exemplo de como tradição e inovação podem andar juntos. “Nosso papel é mostrar que a cultura japonesa é muito maior do que só animes e mangás”, diz. O evento também busca combater estereótipos e incentivar o mercado criativo local, valorizando a diversidade cultural.

Flavio cresceu assistindo a desenhos japoneses e, com o tempo, transformou essa paixão em negócio. Hoje, seu trabalho ajuda a manter viva a presença da cultura japonesa entre os jovens, ao mesmo tempo em que cria novas oportunidades de negócios e encontros culturais em Campo Grande.

Parada Nerd é um evento que reúne fãs da cultura pop de todas as idades (Foto: Arquivo Pessoal)Parada Nerd é um evento que reúne fãs da cultura pop de todas as idades (Foto: Arquivo Pessoal)

Um século de história e integração - A Feira Central completa 100 anos em 2025 e tem sido palco de diversas homenagens à influência japonesa na cidade. Desde abril, a agenda comemorativa tem promovido eventos como o Festival do Peixe, realizado pelo Sebrae/MS em parceria com a Abrasel/MS, fortalecendo o comércio local e os laços com as raízes culturais.

A conexão entre o Brasil e o Japão também foi celebrada neste mês com a visita da princesa Kako, da família imperial japonesa, a Campo Grande. O momento reforçou o valor simbólico da relação entre os dois países e mostrou como a cultura japonesa está presente na vida dos sul-mato-grossenses — da comida à moda, dos eventos culturais aos negócios de família.

Mais do que um espaço de compra e venda, a Feira Central de Campo Grande é um lugar de memória viva. Cada barraca, receita, peça de roupa ou evento é uma forma de manter acesa a chama da cultura japonesa e sua contribuição para o desenvolvimento econômico, social e cultural da cidade.

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