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CULTURA

'Em cada rua, uma história': Pesquisa resgata memória de Fátima do Sul por meio da toponímia urbana

Com mais de 10 anos de trabalho, professores Cláudia Capilé e Wagner Cordeiro transformam levantamento sobre nomes de ruas em um site educativo e interativo

16 julho 2025 - 11h10Da Redação
Professores criam projeto que resgata a história de Fátima do Sul por meio dos nomes de ruas da cidade.
Professores criam projeto que resgata a história de Fátima do Sul por meio dos nomes de ruas da cidade.

Um trabalho de fôlego que começou em sala de aula e se transformou em uma robusta pesquisa histórica ganha agora nova vida digital. Os professores e historiadores Cláudia Capilé e Wagner Cordeiro Chagas anunciaram, em entrevista à Band FM Grande Dourados, a reativação e ampliação do “Dicionário de Ruas de Fátima do Sul”, uma plataforma online que reúne informações sobre as pessoas e acontecimentos que dão nome às ruas da cidade e do distrito de Culturama.

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O projeto, iniciado por Cláudia em 2011 com o nome Nossa Terra, Nosso Chão: em cada rua uma história, ganhou fôlego e metodologia acadêmica a partir de 2015, com a entrada do professor Wagner. Juntos, eles compilaram dados históricos, biografias e fotografias que ajudam a contar a história local por meio da toponímia urbana.

“Esse ano de 2025, para mim e para o Wagner, é a realização de um sonho”, afirmou Cláudia. “A gente transformou essa pesquisa em um site, porque ela estava em um portal público que ficou mais de seis meses fora do ar. Não podíamos deixar esse conteúdo inacessível à população.”

Professores criam site que resgata a história de Fátima do Sul por meio dos nomes de ruas da cidade.

A iniciativa não apenas resgata o passado, como também aproxima a população de suas raízes. Ao buscar o nome da própria rua, o cidadão pode descobrir a trajetória do homenageado, muitas vezes um parente, conhecido ou figura importante para a formação do município.

“A gente chegou à conclusão de que a maior parte das ruas de Fátima do Sul e algumas de Culturama homenageiam cidadãos que ajudaram a formar nosso município”, explicou Wagner. “São nomes que contam a história do lugar.”

Cláudia lembra que o processo de pesquisa envolveu não apenas consulta a documentos e leis municipais, mas também entrevistas com familiares e moradores mais antigos. “Teve pessoas que não quiseram participar, outras não conseguimos localizar. Mas sempre fizemos questão de validar cada dado com familiares diretos”, explicou a historiadora.

Do anonimato ao reconhecimento público - Os professores destacaram o valor simbólico de resgatar nomes que, embora estampem placas nas esquinas, muitas vezes caíram no esquecimento coletivo. Um exemplo é a rua Antônio Barbosa, onde está localizada a própria emissora de rádio.

“Ele foi um produtor rural de Campo Grande, mas teve ligação com Fátima do Sul por meio de propriedades na região e relações comerciais. Comprou terrenos aqui e ajudou a desenvolver essa área”, contou Cláudia. “Mesmo não sendo morador, sua contribuição foi significativa.”

Outro caso curioso é o da rua Georgete Cavalcante, no Jardim Brasilândia. “Ela não gostava de tirar fotos, então no site não tem imagem dela. O filho nos contou isso”, disse Wagner. “São detalhes que humanizam e enriquecem a memória local.”

Hoje, o Dicionário de Ruas já conta com cerca de 70% das ruas do município catalogadas e pode ser acessado online com informações detalhadas, incluindo localização via GPS. Além das biografias, o site oferece um resumo da história da cidade, lista de prefeitos, o hino municipal e dados do autor do hino.

“Na página inicial, o usuário pode digitar o nome da rua e, se ela estiver cadastrada, aparecem as informações históricas e até a foto do homenageado”, explicou Cláudia. “Se não aparecer, é porque ainda não atualizamos ou não conseguimos localizar os dados.”

Os professores informaram que também estão estendendo a pesquisa aos distritos de Culturama e Planalto, reforçando o compromisso com a preservação da memória regional.

De moradores ilustres a personalidades nacionais, o projeto virou um site interativo que resgata a memória da cidade e emociona famílias inteiras

Além da preservação histórica, o dicionário também tem fins pedagógicos. Tanto Cláudia quanto Wagner utilizam o conteúdo em suas aulas para aproximar os alunos da história local.

“Não podemos deixar o aluno sair do ensino básico sem conhecer o mundo, o país, o estado e, principalmente, a cidade onde mora”, pontuou Wagner. “A história das ruas é a história das pessoas comuns que contribuíram para o crescimento de Fátima do Sul.”

Cláudia complementa dizendo que o projeto nasceu, justamente, da tentativa de tornar o ensino mais atrativo. “Os alunos traziam para a escola informações sobre a pessoa que deu nome à rua onde moravam. Virava exposição, painel, apresentação. Era um aprendizado afetivo.”

Além do trabalho nas escolas, os professores lançaram um curta-metragem com duração de 25 minutos, em que retratam seis ruas e seus homenageados. A produção, segundo eles, despertou forte emoção nos familiares entrevistados.

“Foi emocionante ver a gratidão das pessoas. A memória foi resgatada, e isso é um presente para a cidade”, disse Cláudia.

A pesquisa também revelou desafios, como o uso ainda recorrente de nomes antigos de ruas, mesmo após mudanças legais feitas desde a década de 1980. Muitas placas permanecem desatualizadas, o que confunde moradores e visitantes.

“Temos ruas que mudaram de nome por lei, mas continuam com as placas antigas. É um ponto que vamos levar ao poder público para melhorar a sinalização”, comentou Wagner.

Apesar das limitações, como a ausência de verba pública e o trabalho voluntário, os dois pesquisadores seguem empenhados em alimentar o site e ampliar a cobertura do projeto. “É uma forma de tornar pública uma história que é de todos”, reforçou Cláudia. “Quem quiser ajudar pode entrar em contato conosco, principalmente se tiver informações ou documentos sobre nomes de ruas ainda não cadastradas.”

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