
Ícone do cinema francês e uma das figuras mais reconhecidas do audiovisual no século 20, Brigitte Bardot morreu neste domingo, aos 91 anos. A atriz, que marcou gerações com personagens ousadas e cheias de personalidade, deixa uma filmografia extensa e simbólica para a história do cinema.
Bardot havia sido internada em novembro em um hospital em Toulon, no sul da França, onde passou por uma cirurgia no mês passado. A morte foi confirmada pela Fundação Brigitte Bardot à imprensa francesa, sem detalhamento da causa do falecimento.
Apesar de ter se afastado das telas nos anos 1970, a artista participou de mais de 60 filmes e se consolidou como um dos grandes rostos do cinema francês. Seus trabalhos ajudaram a construir a imagem de símbolo de sensualidade e de liberdade feminina, em papéis que desafiavam padrões de comportamento e causavam impacto à época em que foram lançados.
Ao longo da carreira, Brigitte Bardot trabalhou com alguns dos diretores mais importantes do cinema mundial, entre eles Jean-Luc Godard e Federico Fellini. A combinação entre presença de cena, ousadia dos personagens e parcerias com grandes cineastas garantiu lugar definitivo da atriz na história da sétima arte.
Em homenagem à trajetória da artista, relembre alguns dos filmes que marcaram sua carreira e saiba onde é possível assisti-los atualmente.
‘E Deus Criou a Mulher’ (1956)
Antes deste longa, Brigitte Bardot já era conhecida como atriz e modelo, mas foi “E Deus Criou a Mulher”, dirigido por Roger Vadim, então marido da artista, que a transformou em símbolo sexual diante do público internacional.
Na trama, Bardot interpreta uma jovem órfã que vive em Saint-Tropez, no sul da França. A personagem desperta o interesse de praticamente todos à sua volta, chamando atenção pela maneira como se comporta, se relaciona e circula pela cidade. O filme ajudou a fixar a imagem de Bardot como um rosto associado à sensualidade e à liberdade de costumes, em um contexto em que esse tipo de abordagem ainda era considerado provocativo.
Onde assistir: Looke e Plex.
‘Ao Cair da Noite’ (1958)
Dois anos depois, Brigitte Bardot voltaria a ser dirigida por Roger Vadim em “Ao Cair da Noite”, produção que mistura drama, romance e suspense. Desta vez, a atriz vive Ursula, uma jovem que deixa um convento para morar com a tia e o marido dela, um homem violento.
Ao entrar nessa nova rotina, Ursula se envolve com um estudante. A situação, porém, se complica quando ela descobre que o mesmo homem também mantém uma relação com sua tia. A partir daí, o filme constrói um clima de tensão em torno dos conflitos pessoais, dos segredos e das relações de poder dentro daquele ambiente familiar.
Onde assistir: Oldflix.
‘O Desprezo’ (1963)
“O Desprezo” marca a colaboração de Brigitte Bardot com Jean-Luc Godard, um dos diretores mais revolucionários do cinema. Foi o primeiro filme de Godard com participação da atriz e se tornou um dos títulos mais lembrados da carreira dela.
No longa, Bardot interpreta Camille, uma jovem casada com um roteirista contratado para adaptar a “Odisseia” para o cinema. Enquanto o marido trabalha no roteiro e se envolve com o universo da produção, a relação entre os dois começa a se desgastar.
O filme é conhecido como uma obra complexa e de forte carga psicológica, acompanhando a crise conjugal em meio às pressões do set de filmagem e à presença de outros personagens que interferem no relacionamento. A interpretação de Bardot reforça a dimensão emocional da história, em uma narrativa que coloca amor, desejo e frustração em choque.
Onde assistir: apenas em mídia física.
‘A Verdade’ (1960)
Dirigido por Henri-Georges Clouzot, “A Verdade” é apontado como um dos trabalhos mais densos da carreira de Brigitte Bardot. A atriz vive Dominique, uma mulher que está sendo julgada pela morte do amante.
Ao longo do filme, o espectador acompanha o julgamento e a reconstrução da história por meio de advogados, testemunhas e depoimentos. Cada versão apresentada revela facetas diferentes da protagonista, expondo contradições, fragilidades e conflitos.
Conforme novos relatos são apresentados, surgem vários lados da personalidade de Dominique, ampliando a complexidade da personagem. O longa explora essa multiplicidade a partir da forma como os outros a veem e a descrevem.
Onde assistir: apenas em mídia física.
‘Histórias Extraordinárias’ (1968)
Lançado em 1968, “Histórias Extraordinárias” é inspirado em três contos de Edgar Allan Poe e organizado em três segmentos independentes, cada um dirigido por um cineasta diferente: Federico Fellini, Roger Vadim e Louis Malle.
Brigitte Bardot participa do episódio dirigido por Louis Malle, ao lado do ator Alain Delon, seu grande amigo. Os dois atuam na trama baseada em “William Wilson”, em uma parceria que já havia acontecido antes, em “Amores Célebres” (1961).
O formato em episódios permite diferentes abordagens estéticas e narrativas dentro do mesmo filme, com Bardot e Delon dividindo a cena em uma das histórias que compõem o conjunto da obra.
Onde assistir: Oldflix.
‘Shalako’ (1968)
No mesmo ano, Bardot contracenou com Sean Connery em “Shalako”, um faroeste dirigido por Edward Dmytryk. A produção leva a atriz a um cenário bem diferente dos dramas e romances europeus que marcaram sua filmografia.
Na história, um grupo de aristocratas europeus atravessa uma reserva indígena durante uma viagem pelo Novo México. Em meio ao percurso, uma condessa é atacada por um dos nativos. O guia responsável por conduzir o grupo intervém para salvá-la, desencadeando o conflito central do filme.
A presença de Brigitte Bardot ao lado de Sean Connery, em um western, reforça a versatilidade da atriz em projetos de estilos variados, transitando por gêneros distintos sem abandonar a força de sua imagem em cena.
Onde assistir: Looke e Oldflix.
Bônus: ‘Masculino, Feminino’ (1966)
Quem quiser ver Brigitte Bardot em uma participação breve, mas simbólica, pode recorrer a “Masculino, Feminino”, também dirigido por Jean-Luc Godard. O filme acompanha um ex-militar que passa a atuar como militante contra a guerra.
Bardot aparece interpretando ela mesma, em uma espécie de “ponta” que marca o momento em que seu nome já havia ultrapassado as fronteiras do cinema e se tornado um fenômeno de fama mundial. Mesmo sem ser protagonista, sua presença reforça o peso que tinha na cultura da época.
Onde assistir: Mubi.
Um legado que permanece nas telas - Embora tenha deixado o cinema ainda nos anos 1970, Brigitte Bardot segue presente na memória do público por meio de seus filmes e personagens. Símbolo de sensualidade e de liberdade feminina, ela protagonizou histórias que ajudaram a mudar a forma como mulheres eram retratadas nas telas, especialmente em papéis considerados ousados para o contexto social e cultural da época.
Com mais de 60 filmes no currículo, parcerias com diretores consagrados e uma imagem que atravessou gerações, Bardot permanece como referência quando se fala em cinema francês. A possibilidade de rever seus trabalhos em plataformas de streaming ou em mídias físicas mantém vivo o contato com sua obra e com uma parte importante da história do cinema mundial.

