
O corpo de Arlindo Cruz foi sepultado neste domingo, 10, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste do Rio de Janeiro, em uma cerimônia que reuniu familiares, amigos, personalidades do samba e fãs. O sambista, que morreu na sexta-feira aos 66 anos, foi lembrado por sua trajetória de talento e generosidade.

Antes do sepultamento, o corpo foi velado na quadra do Império Serrano, em um “gurufim” — tradição de origem africana que combina música, canto e celebração como forma de amenizar a dor da despedida. O cortejo até o cemitério foi feito em um caminhão do Corpo de Bombeiros, seguido por admiradores que entoavam canções do artista.
Entre os presentes estavam os filhos Arlindinho e Flora Cruz, a viúva Babi Cruz, além de nomes como Diogo Nogueira e Hélio de la Peña. Coroas de flores foram enviadas por amigos, escolas de samba e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Em essência, o Sambista Perfeito. Arlindo nos deixa um legado de talento, poesia e generosidade, que ficará para sempre na nossa memória”, escreveu Lula nas redes sociais.
O velório, realizado no sábado, 9, também contou com a presença do prefeito Eduardo Paes. Arlindo estava internado desde maio, no Hospital Barra d’Or, na Barra da Tijuca, por complicações de uma pneumonia. Desde que sofreu um AVC, em 2017, enfrentava um delicado estado de saúde, alternando períodos em casa e internações.
A importância do ‘gurufim’
O “gurufim” é uma prática de raízes africanas trazida ao Brasil por escravizados. Durante o ritual, amigos e familiares cantam e bebem para celebrar a vida do falecido e garantir uma passagem tranquila. Artistas como Bira Presidente e Beth Carvalho também tiveram despedidas nesse formato. No caso de Arlindo, a família pediu que todos usassem roupas claras como símbolo da luz e alegria deixadas pelo músico.
Legado no samba
Compositor de 12 sambas-enredo para o Império Serrano, Arlindo Cruz foi homenageado pela escola em 2023. O grupo destacou, em nota, “o imenso pesar e profunda dor” pela perda de um de seus filhos mais ilustres.
O bloco Cacique de Ramos também lamentou, afirmando que a trajetória do artista está “inscrita na história do samba” e da própria instituição. Companheiros de palco como Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola expressaram sua tristeza. “Sofreu muito e agora merece descansar um pouco. Vá com Deus, meu compadre!”, escreveu Zeca. Paulinho lembrou o impacto do grupo Fundo de Quintal, que Arlindo ajudou a renovar “num tempo em que o samba quase não tocava nas rádios, mas lotava ginásios”.
Respeito e saudade
O adeus a Arlindo Cruz reafirma sua importância como compositor, intérprete e representante maior da cultura brasileira. Sua obra e carisma continuam vivos na memória de quem o acompanhou dentro e fora dos palcos.
